Condenado por pedofilia e foragido da polícia, o australiano Christopher John Gott, de 63 anos, passou os últimos 22 anos vivendo tranquilamente em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, como um pacato professor particular de Inglês. Sua verdadeira identidade só foi descoberta depois que ele se tornou vítima de um atropelamento cinematográfico em janeiro, quando um carro desgovernado invadiu o calçadão da orla, matando um bebê e deixando 17 pessoas feridas. A polícia investiga agora se ele teria cometido algum crime no País, além do uso de documento falso.

A história foi revelada na edição de terça-feira, 10, do jornal The Australian. De acordo com a reportagem, a polícia australiana estaria colaborando com autoridades internacionais para avaliar a possibilidade de pedir a extradição do criminoso. A saída de Gott do Brasil, no entanto, pode ser negada por causa de seu estado de saúde.

Logo após o acidente, o australiano foi levado para o Hospital Miguel Couto, onde está internado até hoje “em estado grave” e “inconsciente”, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde.

Médicos ouvidos pela reportagem afirmam que a chance de ele sair do coma e recobrar a consciência é ínfima.

Na ocasião do atropelamento, Gott foi identificado como Daniel Marcos Philips, de 68 anos, de acordo com o passaporte que portava, e a Embaixada Australiana foi notificada do acidente. No entanto, não havia na Austrália registro de nenhum cidadão com esse nome.

De posse das digitais, a Polícia Federal daquele país abriu uma investigação em busca da real identidade da vítima do acidente. Concluiu-se então que o passaporte usado por ele no Brasil era falso e que, na verdade, se tratava de um condenado, foragido desde 1996.

Procurada pelo jornal O Estado de S.Paulo, a Embaixada da Austrália no Brasil afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso.

Gott nasceu em Melbourne e trabalhou como professor do ensino médio na cidade de Darwin até 1994, quando foi preso após 17 denúncias de abuso sexual de crianças, entre elas o estupro de uma menor de 14 anos, segundo The Australian. Ele foi condenado a seis anos de prisão, mas conseguiu fugir do país dois anos depois, assim que sua liberdade condicional foi concedida, com um passaporte falso.

O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça do Brasil informou à reportagem que não pode se manifestar sobre o tema ou mesmo “sobre a mera existência ou não de um pedido de extradição, porque poderá por em risco a investigação em andamento”.

A Polícia Federal informou que “através de sua representação da Interpol no Rio de Janeiro tem atuado junto com a Polícia Civil Estadual na busca de dados sobre o cidadão australiano internado no Hospital Miguel Couto”. Ainda de acordo com a nota, “o referido cidadão já foi adequadamente identificado, e a representação da Interpol no Brasil mantém a interlocução com as autoridades australianas para eventuais procedimentos futuros relacionados ao caso”.

Atropelamento

O atropelamento aconteceu na noite do dia 18 de janeiro, quando Antônio Almeida Anaquim, de 41 anos, perdeu o controle do carro que dirigia na Avenida Atlântica, na altura da Rua Figueiredo de Magalhães. O acidente foi por volta das 21 horas, em uma noite extremamente quente do verão carioca, em que o calçadão ainda estava lotado.

O carro, sem controle, subiu no calçadão, matando a bebê Maria Louise, de apenas 8 meses, e ferindo 17 pessoas, entre elas o australiano.

Em sua defesa, o motorista afirmou que sofreu um ataque epilético enquanto dirigia e perdeu a consciência. Remédios para epilepsia foram encontrados no carro. No entanto, durante o processo de obtenção da carteira de motorista, Anaquim não declarou sofrer de epilepsia. Ele foi indiciado por homicídio culposo (em que não há a intenção de matar).