14/04/2021 - 14:12
SÃO PAULO, 14 ABR (ANSA) – Por Renan Tanandone – Daqui a exatos 100 dias, a cidade de Tóquio, capital do Japão, abrirá suas portas para a edição de 2020 dos Jogos Olímpicos, mas a ausência de público estrangeiro devido à pandemia do novo coronavírus deve redimensionar a importância econômica do evento.
Com o agravamento da emergência sanitária em diversas nações, entre elas o Brasil, a decisão de impedir a entrada de torcedores estrangeiros foi um balde de água fria no setor turístico japonês, que esperava receber por volta de 600 mil pessoas durante os Jogos.
De acordo com Takahide Kiuchi, economista do Instituto de Pesquisa Nomura, a proibição à entrada de turistas de outras nações pode causar um prejuízo de cerca de US$ 1,8 bilhão. Além disso, os organizadores do evento ainda precisarão reembolsar ingressos vendidos ao público do exterior.
Em entrevista à ANSA, Felipe Varotti, mestre em gestão do esporte, destaca que os países que sediam Olimpíadas investem uma “considerável quantidade de recursos financeiros” para atender às exigências dos comitês olímpico e paralímpico. No entanto, sem a presença de estrangeiros, o retorno dos investimentos será “bem prejudicado”.
“Os Jogos têm sido vistos como uma oportunidade para deixar legados aos seus países-sedes, e é investida uma considerável quantidade de recursos financeiros para atender às exigências das entidades organizadoras. E os países esperam recuperar parte desse valor com o turismo e com a melhoria da imagem no exterior”, diz Varotti.
Para piorar o ambiente, os próprios japoneses, em sua maioria, não apoiam a realização do evento no atual cenário, segundo uma pesquisa divulgada pela emissora NHK. O levantamento apontou que apenas 27% dos entrevistados são a favor das Olimpíadas, enquanto 32% desejam o cancelamento, e outros 31% preferem um novo adiamento.
No entanto, Luiz Antonio Ramos, também mestre em gestão do esporte, ressalta que o prejuízo para o Japão pode ser “um pouco menor” se o megaevento de fato acontecer, ainda que sem público estrangeiro.
“O momento é totalmente atípico, com um problema generalizado e descontrolado de saúde que já forçou o adiamento da edição de 2020 para 2021. O prejuízo de Tóquio será um pouco menor se o evento for realizado, mas os atletas devem passar por um controle muito rígido em relação à Covid, da mesma forma que já são controlados em relação ao doping”, afirma.
Além do adiamento e das restrições ao público, uma série de gafes dos organizadores abalou ainda mais a imagem do evento perante os japoneses. O ex-premiê Yoshiro Mori deixou a presidência do Comitê Organizador por causa de comentários sexistas. Já o diretor-executivo de criação, Hiroshi Sasaki, renunciou após ter feito declarações gordofóbicas contra uma atriz.
Ramos afirma que os deslizes de membros do alto escalão da organização das Olimpíadas poderiam ter sido evitados e causaram uma “exposição desnecessária” do evento.
“Essas situações geram críticas em todo o mundo. O povo japonês é reconhecido como muito educado e respeitoso, mas o evento acaba ficando marcado por esses deslizes. Na prática, os problemas foram solucionados rapidamente, mas demonstraram falhas que poderiam ser evitadas”, comenta o especialista.
Depois do Japão, os Jogos Olímpicos irão para Paris, na França, em 2024, e podem sofrer com efeitos colaterais da edição de Tóquio.
“O impacto gerado por essa pandemia em nível mundial vai atingir algumas frentes para a próxima edição dos Jogos. Os patrocinadores ficarão mais atentos aos acordos comerciais, e possivelmente, e em pequena escala, alguns países ainda podem ter problemas de ordem sanitária”, diz à ANSA o especialista em gestão esportiva Renato Bragagnollo.
As Olimpíadas de Tóquio estão previstas para começar no dia 23 de julho e acabar em 8 de agosto. (ANSA).