O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou, nesta quarta-feira (25), que o aumento do nível do mar devido à mudança climática ameaça criar “uma maré de infortúnios” para os 900 milhões de pessoas que vivem nas zonas costeiras do mundo.

Ao mesmo tempo, uma coalizão de pequenos países insulares pediu que sua soberania seja respeitada se seus países acabarem submergindo.

“O aumento do nível do mar também supõe uma onda crescente de misérias”, disse Guterres na cúpula sobre a elevação do nível do mar, realizada ao mesmo tempo que a Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

O aumento do nível do mar não só modificará as costas, mas também a economia, a política e a segurança em todo o planeta, alertou.

Os cientistas advertem que o nível do mar está subindo mais rapidamente do que em qualquer momento dos últimos 3.000 anos, devido ao derretimento das calotas de gelo da Groenlândia e da Antártica.

Entre 1901 e 2018, o nível do mar subiu cerca de 20 cm, quase metade desta medida apenas entre 1993-2018. A taxa de aumento atingiu quase meio metro nos últimos anos.

Os gases de efeito estufa, produzidos principalmente pela combustão de combustíveis fósseis, são os principais culpados.

– Condenados a desaparecer –

Segundo um estudo citado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, cinco países – Maldivas, Tuvalu, Ilhas Marshall, Nauru e Kiribati – poderiam se tornar inabitáveis em 2100, criando 600.000 refugiados climáticos apátridas.

Os países insulares também pressionam para obter proteções legais, que salvaguardem os direitos humanos daqueles forçados aos deslocamentos, garantam o apoio financeiro aos esforços de adaptação e estabeleçam programas que preservem a sua cultura.

“Desde 1989, fizemos soar o alarme sobre a crise climática e o aumento do nível do mar, ao mesmo tempo em que enfrentávamos seus efeitos devastadores”, disse o primeiro-ministro de Samoa, Fiame Naomi Mata’afa, por meio de nota.

Outros países já começaram a sofrer as consequências.

É o caso do Panamá, onde centenas de famílias insulares foram realocadas no continente; ou Bangladesh, onde a água salgada contamina a água potável, destrói colheitas e ameaça a saúde da população.

Cabe aos líderes mundiais mitigar estas ameaças, instou Guterres. “As suas escolhas determinarão a escala, o ritmo e o impacto do aumento do nível do mar”, alertou.

O aumento do nível do mar também intensifica as tempestades, a erosão costeira e as enchentes, destruindo a biodiversidade e atividades como pesca, agricultura e turismo.

– “Muito pior” –

“Se não agirmos rapidamente, a situação será muito pior”, também devido à pressão migratória.

Guterres exortou os participantes na COP 29, que acontecerá em novembro no Azerbaijão, a definirem fontes de capital “novas e inovadoras” e a fazerem contribuições “significativas” para o novo Fundo de Perdas e Danos, como um passo em direção à “justiça climática”.

“Precisamos que os países desenvolvidos dupliquem o financiamento da adaptação para pelo menos 40 bilhões de dólares (218 bilhões de reais) por ano até 2025”, apelou.

Mas, acima de tudo, comprometem-se com planos econômicos que limitam o aumento da temperatura a um máximo de 1,5º C.

“Não podemos permitir que as esperanças e aspirações de bilhões de pessoas morram na água. Não podemos permitir a destruição em massa de países e comunidades. É hora de inverter a maré. E salvar-nos do aumento do nível do mar”, alertou.