A mais recente escalada de tensão entre Estados Unidos e China reacendeu o apelo de congressistas americanos para um boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que serão em Pequim. O movimento teve início no ano passado, quando o ex-governador da Flórida e senador Rick Scott passou a pedir que o Comitê Olímpico Internacional (COI) altere a sede da Olimpíada em razão da repressão contra uigures e outras minorias étnicas no país.

Uma das principais vozes nos Estados Unidos a criticar a ideia dos Jogos em Pequim, marcados para fevereiro de 2022, Scott retomou os apelos há uma semana. “A China comunista absolutamente não deve sediar as Olimpíadas de 2022. O COI deve rever imediatamente”, escreveu em sua conta no Twitter há uma semana.

Em um editorial no início de julho, o jornal americano Washington Post defendeu que é preciso questionar se a China deve sediar os Jogos. “Por que a comunidade esportiva mundial deve honrar um país que cometeu genocídio?”, questionou o editorial do periódico ao falar sobre a imposição de esterilização forçada aos uigures e medidas para conter o avanço populacional do grupo.

Estados Unidos e China ensaiaram uma trégua diplomática no final do ano passado com a assinatura de um acordo comercial pelos governos de Donald Trump e Xi Jinping, mas a pandemia do novo coronavírus promoveu uma erosão no diálogo entre as duas potências. As referências de especialistas a uma nova guerra fria ganharam corpo nos últimos meses, com uma série de medidas adotadas pelos dois lados que colocam em xeque a possibilidade de negociação em meio à guerra comercial, tecnológica e às acusações sobre desrespeito a direitos humanos. As medidas mais recentes foram a determinação pelos americanos do fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas, com a respectiva retaliação de Pequim.

O uso dos Jogos Olímpicos no campo da política internacional tem sido observado com preocupação pelo COI. A medida não seria uma novidade: Washington e aliados – como Japão, Alemanha e Canadá – boicotaram a Olimpíada de 1980, em Moscou, em protesto à invasão soviética no Afeganistão.

O presidente do COI, o alemão Thomas Bach, afirmou na semana passada que “boicotes e discriminação são um perigo real”, mas disse que eles apenas “punem os atletas” e privam o povo de compartilhar a alegria da equipe olímpica. “O exército soviético ficou mais nove anos no Afeganistão após o boicote”, disse.

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A concordância com a pressão sobre o governo chinês a respeito do tratamento aos uigures é um raro consenso bipartidário na política americana atual. Em junho, Donald Trump ratificou a lei aprovada no Congresso com apoio de democratas e republicanos que impõe sanções às autoridades chinesas acusadas da prisão em massa de uigures muçulmanos no noroeste do país.

A possibilidade de colocar os Jogos Olímpicos em discussão é defendida por parlamentares dos dois lados. Rick Scott escreveu uma carta a Bach, em outubro, pedindo que os Jogos mudassem de lugar, na mesma época em que propôs uma resolução no Congresso americano com o mesma tema. Além do republicano, a deputada democrata Rashida Tlaib – uma das primeiras muçulmanas a ser eleita – já demonstrou apoio a uma campanha de boicote aos Jogos.

“Receio que Pequim-2022 seja seriamente comprometida com o fato de que o Partido Comunista Chinês tem 1-2 milhões de pessoas em campos de prisão e tornaram Xinjiang em um estado policial de alta tecnologia. As comparações com as Olimpíadas Nazistas de 1936 são óbvias demais para ignorar”, escreveu James A. Millward, professor da Georgetown University especializado em China.

Há cerca de 10 dias, o COI pediu desculpas por veicular imagens dos Jogos Olímpicos de Berlim, realizados em 1936, em um documentário sobre a história olímpica e anunciou a retirada das cenas, muitas das quais mostravam Adolph Hitler e símbolos do nazismo.


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