A pressão internacional para alcançar um acordo de trégua entre Israel e o Hamas, que incluiria uma nova libertação de reféns, intensificou-se nesta terça-feira (13), apesar da ameaça de uma ofensiva israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, onde se refugiam mais de um milhão de palestinos.

O diretor da CIA, William Burns, o chefe do Mossad, David Barnes, e o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, reuniram-se com autoridades egípcias no Cairo nesta terça-feira “para discutir uma trégua em Gaza”, informou a a Al-Qahera News.

As conversas ocorreram “em um ambiente positivo”, segundo a emissora, que citou um “alto funcionário egípcio”.

As famílias dos reféns retidos em Gaza, que constantemente exigem do governo suas libertações, enviaram uma mensagem à delegação israelense: “Não voltem até que todos estejam de volta. Os vivos e os mortos”.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, recentemente ordenou ao Exército que preparasse uma ofensiva sobre a cidade de Rafah, junto à fronteira com o Egito.

Lá se concentram 1,4 milhão de palestinos, segundo a ONU, mais da metade da população total do território, a maioria das pessoas que fugiram da guerra que começou há quatro meses.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, esperava nesta terça-feira que as negociações “tenham sucesso, para evitar uma ofensiva total sobre Rafah […] que teria consequências devastadoras”, e que, segundo o chefe de operações humanitárias da organização, Martin Griffiths, “poderia levar a um massacre”.

Netanyahu reiterou na véspera sua determinação de continuar com a pressão militar “até a vitória completa” contra o Hamas, do qual Rafah é o “último bastião”, e de libertar “todos os nossos reféns”.

Na segunda-feira, Israel libertou dois reféns argentino-israelenses em Rafah durante uma operação noturna acompanhada de bombardeios que mataram cerca de cem pessoas, segundo autoridades do movimento islamista palestino, no poder em Gaza desde 2007.

O Exército israelense anunciou nesta terça-feira a morte de três soldados nos combates na Faixa de Gaza, elevando para 232 o número de soldados israelenses mortos desde o início da operação terrestre, em 27 de outubro.

– ‘Evitar uma catástrofe’ –

Jornalistas da AFP viram nesta terça-feira colunas de fumaça de bombardeios sobre Khan Yunis e Rafah, onde dois jornalistas da Al Jazeera ficaram “gravemente feridos” em um “ataque deliberado” de Israel, segundo a emissora.

O Exército de Israel divulgou um vídeo nesta terça-feira, que disse ser de uma câmera de segurança, mostrando o chefe do Hamas em Gaza e membros de sua família em um túnel em 10 de outubro.

“O vídeo mostra o líder do Hamas e assassino em massa, Yahya Sinwar, fugindo com seus filhos e uma de suas esposas”, disse o porta-voz do Exército, Daniel Hagari. A AFP não conseguiu verificar independentemente as imagens.

A China pediu nesta terça-feira a Israel que pare “o mais rápido possível” sua operação militar em Rafah, para “evitar uma catástrofe humanitária ainda mais grave”.

Em uma visita à fronteira de Gaza, o chefe do exército israelense, Herzi Halevi, declarou que estavam “se preparando para que os combates continuem por muito tempo”.

A guerra foi desencadeada em 7 de outubro por um ataque sem precedentes de combatentes do Hamas no sul de Israel, que resultou na morte de mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Em retaliação, o governo israelense prometeu “aniquilar” o Hamas, que considera uma organização “terrorista”, assim como os Estados Unidos e a União Europeia.

A ofensiva israelense deixou 28.473 mortos na Faixa de Gaza, a grande maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

Segundo Israel, 130 reféns ainda estão em Gaza, dos quais acredita-se que 29 morreram, de cerca de 250 pessoas sequestradas em 7 de outubro. Um cessar-fogo de uma semana em novembro permitiu a libertação de 105 reféns em troca de 240 palestinos presos por Israel.

O braço armado do Hamas afirmou que cinco reféns morreram nos bombardeios dos últimos dias. A AFP não conseguiu verificar esta informação.

Diante dos temores internacionais de uma grande ofensiva militar, Netanyahu disse no domingo que Israel abriria à população “uma passagem segura” para sair de Rafah, sem especificar para onde.

Segundo o Wall Street Journal, que cita altos funcionários egípcios, Israel propõe criar 15 grandes acampamentos com 25.000 barracas cada um no sudoeste da Faixa de Gaza, como parte de um plano de evacuação.

Muitas famílias palestinas que já foram deslocadas várias vezes e temem ter que se mudar novamente começaram a desmontar suas barracas em Rafah e recolher seus pertences.

“Fugimos do norte sem nada, depois fomos a Khan Yunis sem nada”, disse Ismail Joundiyah, um dos deslocados. “Desta vez, queremos estar prontos”.

Cerca de 1,7 milhão de pessoas, segundo a ONU, de um total de 2,4 milhões de habitantes, fugiram de suas casas desde 7 de outubro no território palestino, sitiado por Israel e mergulhado em uma grande crise humanitária.

A guerra também provocou uma escalada de tensões no Oriente Médio.

Nesta terça-feira, Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah pró-iraniano libanês – que troca tiros com Israel desde o início da guerra em apoio ao Hamas -, condicionou o fim desses ataques a que “um cessar-fogo seja alcançado” em Gaza.

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