19/08/2024 - 17:13
A primeira coisa que fizeram os alunos de uma escola de Daca que voltaram às aulas após semanas de manifestações estudantis em Bangladesh foi render homenagem a um colega morto durante os movimentos de protesto.
Shafiq Uddin Ahmed Ahnaf, de 17 anos, estava na linha de frente das manifestações em agosto quando morreu baleado.
Embora a incerteza política reine no país desde que a primeira-ministra Sheikh Hasina foi destituída após 15 anos no governo e teve que fugir para a Índia em 5 de agosto, a reabertura no domingo (18) das escolas significou um retorno à normalidade após semanas de distúrbios violentos.
A maior parte das vítimas fatais, especialmente por disparos da polícia, foi de estudantes como Ahnaf.
No domingo, o primeiro dia da retomada das aulas depois das manifestações, os companheiros de classe do jovem morto honraram sua memória depositando um ramo de flores no lugar que ocupava, informou a imprensa de Daca.
Mazeda Begum, chefe de outro estabelecimento escolar público de Daca, ressaltou que os alunos tinham pressa de retornar às aulas depois de “viverem o traumatismo durante um mês”.
A diretora prevê instalar um programa cultural para que “possam recuperar sua força mental”.
Seu colega, Riah Hyder, professor de inglês, cancelou suas férias para estar em suas funções com a retomada das aulas.
“O mais importante para nós é que os alunos retornaram para a escola”, declarou. Muitos estudantes dizem que se inspiraram na “coragem” dos manifestantes.
“Estou orgulhoso deles, pois tiveram a coragem de protestar contra as práticas ruins” em matéria de governo, destacou Mahiba Hossain Rahee, de 16 anos.
A jovem, com uniforme azul e tranças, disse à AFP que “passou noites sem dormir pensando no povo” de seu país durante as manifestações.
“Foram jornadas muito duras”, acrescentou, e disse que espera que o país mude para melhor. “Não queremos mais sangue derramado. Queremos uma nação feliz”, ressaltou.
Naifa Tahin, de 16 anos, que passou semanas trancada em sua casa em Daca, conta que o retorno às aulas foi como “um retorno para casa”.
A jovem se mostrou feliz por retornar às aulas e voltar a ver seus amigos, à espera de um novo começo para seu país.
“Durante as últimas semanas não pudemos voltar à escola, assistir às aulas nem ver nossos companheiros”, acrescentou a estudante que disse ter ficado muito nervosa durante esse período.
“É formidável poder retornar finalmente”, acrescentou.
Agora é preciso ter paciência, diz. “Nosso país está dando os primeiros passos, como um recém-nascido.”
O chefe de governo interino, o economista e prêmio Nobel da paz Muhammad Yunus, de 84 anos, retornou da Europa a Bangladesh para assumir a imensa tarefa de levar a cabo reformas democráticas em um país cujas instituições se degradaram.
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