Em um acampamento de deslocados do sul da Faixa de Gaza, um treinador ensina boxe a meninas e adolescentes de Gaza para liberar a “energia negativa” acumulada em nove meses de guerra.

“Eles treinam sem luvas. É ruim para mim, mas temos que continuar treinando”, diz Oussama Ayoub, que deixou a Cidade de Gaza (norte) há vários meses para se estabelecer em Rafah, na fronteira com o Egito

“Minha casa e minha academia foram destruídas” disse à AFP. “Segui dando aulas de boxe em Rafah, nos acampamentos, nas escolas. Visitei outros acampamentos (de deslocados) para treinar as jovens que estão cheias de energia e querem gastá-la”, conta.

As menores golpeiam suas mãos, as maiores golpeiam a almofada verde que está segurando.

“O mais difícil é a falta de recursos”, disse Ayoub, com um apito vermelho pendurado no pescoço. “Tinha tudo, mas agora não tenho nada, nem luvas de boxe, nem patas de urso ou cinturões de boxe. Tenho apenas um colchonete para treinar”, acrescenta.

– “Liberar energia negativa” –

Antes da guerra, a jovem Bilsan Ayoub treinava “em uma academia onde tínhamos todo o equipamento necessário”.

“Eles nos levaram para o sul e paramos de treinar por um longo tempo. Estávamos todos em lugares diferentes e depois fomos agrupados no mesmo campo. O técnico Oussama nos reuniu e nos ajudou a voltar aos trilhos”, diz ela.

“É bom praticar esse esporte, sobretudo nesse momento, nos permite liberar a energia negativa, a fadiga mental e todos os aspectos cansativos de nossa vida”, declara a adolescente. “O boxe nos liberta de tudo isso”, insiste.

O objetivo de Oussama Ayoub, enquanto conduz suas doze alunas em uma série de alongamentos, é fazer com que sua academia volte a funcionar e enviar seus boxeadores a torneios internacionais para “ganhar experiência, porque eles têm energia de sobra”.

Mas, embora as sessões de treinamento sejam um sopro de ar fresco, o treinador sabe que uma luta amadora pode ser interrompida por um bombardeio israelense. “Não há segurança em lugar nenhum”, diz ele.

A guerra estourou em 7 de outubro, quando comandos do movimento islamista palestino Hamas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.

Entre os mortos, havia mais de 300 militares. Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma ofensiva no território palestino que matou 38.193 pessoas, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que é governada pelo Hamas desde 2007.

str-cgo/cab/mas/zm/dd/aa