Foi má estratégia do governo espanhol acusar formalmente o ex-presidente da Catalunha Carles Puigdemont de insurreição, rebelião e fraude – crimes políticos que podem lhe render, se condenado, até três décadas de prisão. Ainda que tenha sido apenas para assustá-lo, o fato é que Puigdemont, que até a quarta-feira 1 seguia refugiado na Bélgica, ganhou a chance de dar o troco. Ao declarar a independência apenas “simbólica” da Catalunha (e o nome já diz tudo: simbólica), ele atrapalhou-se todo e viu diminuir a sua popularidade junto aos catalães. Se a autoridade central de Madri não tivesse lançado mão do artigo constitucional 155 para destitui-lo e colocá-lo na condição de subversivo, Puigdemont teria tropeçado sozinho nos próprios pés. Da forma severa como o primeiro-ministro Mariano Rajoy agiu, o ex-mandatário catalão acabou sendo calorosamente recebido pela população de Bruxelas, fez cercar-se de manifestações políticas a seu favor e, bem ao seu estilo sempre dúbio e pouco claro, até a quarta-feira não firmara posição sobre oficializar ou não um pedido de asilo – até porque o premier belga, Charles Michel, não está endossando essa ideia. Mais: ao convocar novas eleições na Catalunha, o governo pensou que estaria marginalizando de vez Puigdemont. Engano: ele agora tem tanta certeza de que os secessionistas vencerão que declarou-se favorável à votação e já convocou os partidos separatistas a participarem. Tudo leva a crer que, dessa vez, ainda que pesem as dificuldades ecnômicas enfrentadas pela Catalunha, os eleitores irão em massa às urnas – e dirão sim à secessão. Ao governo central não restará outra saída a não ser a de aceitar a independência da região. Detalhe importante: de Bruxelas, Puigdemont já começa a fazer contatos com demais pasíes da União Europeia.

Carles Puigdemont em Bruxelas: ele parecia inerte mas está mais vivo do que nunca (Crédito:REUTERS/Yves Herman)