SÃO PAULO, 24 JUN (ANSA) – Uma interceptação telefônica sugere que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro começou a suspeitar que seria alvo de uma operação policial após receber uma ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL).   

A conversa ocorreu no dia 9 de junho, antes da operação “Acesso Pago”, que investiga corrupção e tráfico de influência dentro da pasta, prender o ex-ministro e os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura, no último dia 22.   

A suspeita de interferência de Bolsonaro embasou nesta sexta-feira (24) a decisão do juiz Renato Borelli de enviar o caso para a análise do Supremo Tribunal Federal. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a medida é necessária porque há indícios de que o presidente interferiu na investigação e a operação vazou.   

Em conversa divulgada pela GloboNews, Ribeiro diz para sua filha que conversou com Bolsonaro e que ele teria dito estar com “pressentimento” de que o ex-ministro poderia ser alvo de um inquérito.   

“Hoje o presidente me ligou, ele está com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos para ele, né?”, disse Ribeiro no trecho que está em investigação da Polícia Federal.   

“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, pergunta a filha.   

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O ex-ministro então respondeu: “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”.   

No relatório com as transcrições, a PF cita que o “ele” citado pelo ex-ministro é Bolsonaro.   

Em nota, o advogado de Ribeiro, Daniel Bialski, afirmou que o áudio foi realizado antes da deflagração da operação e questionou a competência da Justiça Federal em Brasília em julgar o caso, após a investigação ser enviada ao STF.   

“Observando o áudio citado na decisão, causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegiado, ocorridas antes da deflagração da operação. Se assim o era, não haveria competência do juiz de primeiro grau para analisar o pedido feito pela autoridade policial e, consequentemente, decretar a prisão preventiva”, informou a defesa.   

Bolsonaro – Ontem, Bolsonaro disse, em transmissão ao vivo, que acredita na inocência de Milton Ribeiro, principalmente porque não há “materialidade nenhuma” para a prisão, “mas serviu para desgastar o governo, para fazer uma maldade na família do Milton”.   

“Se tiver algo de errado na família do Milton, ele é responsável pelos seus atos. Mas eu não posso desconfiar, levantar uma suspeição contra ele de forma leviana”, declarou.   

O presidente afirmou ainda que a prisão do ex-ministro foi decretada para prejudicar a sua campanha de reeleição à presidência da República e minimizou os crimes pelos quais Ribeiro é investigado.   

“Nem deveria ter sido preso. E olha a maldade: tem a prisão preventiva e a temporária. Deram logo a preventiva para ficar logo preso ali até a campanha. Quando acabasse as eleições, ele ia ser colocado em liberdade”, finalizou. (ANSA)


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