Enquanto os palcos da cidade aguardam o momento seguro para receber o público, outros lugares estão servindo de abrigo. A começar pela internet, nesse velho e redescoberto espaço de expressão, as montagens virtuais se estendem na agenda.

O teatro que era feito de temporada, de quinta a domingo, passou a marcar presença online, agora à disposição de um público conectado. Uma arte em mutação ou, como pensa Julia Lemmertz, “um teatro que ainda pede o encontro”.

Na sexta, 9, a atriz estreou em Simples Assim, uma mutação do espetáculo inspirado em duas coletâneas de Martha Medeiros, transmitido pela Bradesco Seguros em seu canal no YouTube. “No distanciamento, permanece a vontade de participar da cultura e da arte. Para os profissionais do setor, ainda mais, porque tem a ver com sobrevivência”, continua Julia.

Antes de o espetáculo com Pedroca Monteiro e Georgiana Góes ganhar versão digital, Simples Assim cumpria temporada no Rio, quando foi suspenso por conta da pandemia, junto com outros projetos do diretor Ernesto Piccolo. “Toda criação e produção teatral foi atingida. Sofremos impacto no ensino também”, conta o professor da escola Tablado.

Ao migrar para o ambiente online, Piccolo diz que, nos últimos meses, conseguiu manter as turmas de estudantes, embora em tamanho menor. “Tivemos que desenvolver outras abordagens, mudar a estrutura das aulas e estar mais em contato com os alunos.” Da experiência de ensinar através da tela, o diretor conta que a mudança ajudou Simples Assim a dar seus primeiros passos na nova versão. “Me aproximei dos colegas que trabalham há mais tempo nesse ambiente. Virei tecnológico e o teatro precisa disso também”, comenta.

Apesar do título inocente, Simples Assim faz humor com o que há de mais quente no noticiário brasileiro. A montagem não dá descanso à política atual e recria, em narrativas, o caos instalado, conta Julia. “Tudo começa com um jornalista que lê as principais manchetes do dia, entre tragédias ambientais e corrupção na política.” Na interpretação de Pedroca Monteiro, a cada manchete sombria, o jornalista entra em crise, os olhos enchem de lágrimas, na frente das telas. “Guardadas as proporções, estamos numa guerra. Parece que a gente entrou numa bolha para a Idade Média. Mudou para todo mundo”, ressalta a atriz.

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Para o diretor, há também a presença da linguagem televisiva, há tempos um formato que questiona o humor na comunicação midiática. “Se você considerar que o teatro é uma caixa com atores interpretando personagens, não está muito longe do mesmo raciocínio no online.”

Na encenação para o palco, o trio se revezava em diversos personagens, sinalizados por perucas e trejeitos. Em uma cena, Julia e Georgiana estão loiras e trocam conselhos e dicas sobre o confinamento, sempre à beira do descontrole. Já a versão online demandou envolvimento da equipe em todas as etapas da criação a distância.

Cada integrante do elenco teve de criar seu próprio set, manipulando elementos de cena e figurinos. “Fazia sozinha o posicionamento das câmeras, da luz e do chroma key”, explica Julia. “Em algumas cenas, utilizamos os recursos e as imagens de videoconferência, ou de uma ligação de vídeo.” Para o diretor, um dos desafios foi unir o trio na história. “Não se trata de reproduzir a peça, porque ela foi criada para o palco. Além de reduzir a duração, escolhemos cenas que pudessem manter a ideia principal, além de dinamizar. No teatro, por exemplo, sempre tinham dois atores em cena. Ao fim de cada uma delas, um deles saía, e o terceiro surgia. No virtual, isso não acontece da mesma maneira.”

Para a versão online, Julia deixou o confinamento no sítio afastado e retornou à capital carioca. “Claro que fiquei bastante insegura. Depois da pandemia, nunca pensei que pudesse olhar para a cidade de outra forma. Não me vejo mais morando no Rio.”

Piccolo conseguiu tocar a temporada de outras peças suspensas, como D.P.A. – A Peça – Um Mistério no Teatro, em formato Drive-in, no Allianz Parque, nos dias 11 e 12. “Não é muito simples fazer adaptações, o importante é estar com um time, e o teatro permite essa condição.”

NOVO LIVRO

A escritora gaúcha Martha Medeiros deve publicar ainda neste mês A Claridade Lá Fora, pela editora L&PM, uma ficção que nasceu de um roteiro escrito em 2017, segundo informações da assessoria de Simples Assim.

No caminho inverso de um filme, Martha resgatou o roteiro e fez adaptação sobre a história de uma mulher de 66 anos que vive isolada com o marido. Acontecimentos vão forçar a senhora a retornar ao convívio, junto com um segredo que explica o motivo da vida em reclusão. “É sobre a insanidade que pode nos acometer”, diz a autora. “Mesmo sendo pessoas ‘normais’, todo mundo pode algum dia cometer uma loucura.”

SERVIÇO

SIMPLES ASSIM

BRADESCO SEGUROS COM VOCÊ,


NO YOUTUBE.

6ª, 21H. ATÉ 9/11.

GRÁTIS.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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