A decisão de ter filhos está cada vez mais dissociada do relógio. A mulher moderna busca estabilidade profissional, um relacionamento sólido ou, simplesmente, o momento certo para a maternidade. Nesse cenário, o congelamento de óvulos (criopreservação de oócitos) surgiu como uma das ferramentas mais importantes da medicina reprodutiva, oferecendo autonomia e a possibilidade de planejamento.
Famosas têm recorrido aos avanços da medicina para garantir realização profissional sem abrir mão do sonho da maternidade, ou vice-versa. É o caso das atrizes Mariana Ximenes, 44 anos, Carla Diaz, 35. Conhecidas do público desde a infância, as artistas começaram a carreira muito cedo e não pensam em fazer uma pausa. Através do procedimento, elas esperam preservar a fertilidade e construir uma autonomia reprodutiva.
O método funcionou bem para Fabiula Nascimento, 47, que enfrentava dificuldades para engravidar naturalmente. Ela congelou os óvulos dez anos atrás e hoje é mãe dos gêmeos Roque e Raul, nascidos em janeiro de 2022, frutos do casamento com o também ator Emílio Dantas, 43.
Problemas de saúde também podem levar mulheres aos laboratórios. Em novembro deste ano, a atriz Isabella Santoni, 30, revelou ter congelado óvulos destacando a importância do procedimento para quem tem endometriose, assim como ela.
Contudo, a decisão de congelar óvulos é cercada de dúvidas. Mas, para o especialista em reprodução humana *Dr. Wilson Jaccoud, Diretor Médico e Técnico Responsável da Fert-Embryo, a informação clara é a principal ferramenta para a mulher. Por isso, destaca quatro dicas essenciais para quem considera este procedimento.
1. O tempo é o principal fator determinante
O relógio biológico, embora socialmente pressionante, é uma realidade fisiológica. A mulher nasce com todo o seu “estoque” de óvulos a reserva ovariana, que não se renova; ele apenas diminui e envelhece ao longo da vida. A qualidade desses óvulos cai vertiginosamente após os 35 anos. Portanto, o ideal é congelar óvulos antes dos 35 anos.
Isso não significa que mulheres com 38 ou 40 anos não possam fazê-lo, mas elas precisam de uma orientação realista: provavelmente precisarão de mais de um ciclo de tratamento para ter um número “seguro” de óvulos congelados, para ter uma chance de gravidez futura estatisticamente relevante. Uma vez que elas provavelmente terão menos óvulos captados por punção e estes certamente serão de menor qualidade, devido a idade.
2. A segunda orientação é sobre o processo em si. O congelamento não é um procedimento único, mas sim um tratamento de aproximadamente 12 a 15 dias. Ele envolve:
-Avaliação: Consultas e exames ultrassom e exames de sangue para avaliar a reserva ovariana da paciente;
-Estimulação: Uso de medicamentos, injeções subcutâneas, geralmente autoaplicáveis para estimular os ovários a produzirem múltiplos óvulos em um único ciclo, em vez de apenas um;
-Coleta: Um procedimento rápido, de cerca de 20 minutos, realizado sob sedação leve, em que os óvulos são aspirados por via transvaginal. A paciente retoma suas atividades normais no dia seguinte;
-Congelamento: Os óvulos maduros coletados são congelados pela técnica de vitrificação, congelamento ultrarrápido, que garante altas taxas de sobrevivência após o descongelamento.
3. A terceira orientação é talvez a mais importante em termos de alinhamento de expectativas: congelar óvulos não é uma garantia de bebê.
“Costumo dizer às minhas pacientes que o congelamento de óvulos é uma tentativa de parar o relógio biológico para aquele lote de óvulos, aumentando o potencial reprodutivo futuro. No entanto, esses óvulos ainda precisarão sobreviver ao descongelamento, ser fertilizados em laboratório (via FIV – Fertilização In Vitro) e gerar um embrião saudável capaz de se implantar no útero”, explica ele.
“A principal vantagem é que, se uma mulher de 42 anos decidir engravidar, ela poderá usar seus óvulos ‘jovens’ de 32 anos, aumentando exponencialmente suas chances em comparação ao tentar naturalmente ou com óvulos coletados naquela idade”, observa o especialista.
O Dr. alerta que a decisão de congelar óvulos é profundamente pessoal e deve ser livre de julgamentos. É sobre dar a si mesma a chance de escolha no futuro. O papel da medicina reprodutiva é oferecer as ferramentas e o conhecimento para que cada mulher possa traçar sua própria jornada de maternidade, seja ela imediata ou futura, no seu tempo e da sua maneira.
4. Busque um especialista de referência, converse abertamente sobre sua reserva ovariana e suas expectativas.
Informação, neste caso, é sinônimo de poder.