Atriz de novo filme de Anna Muylaert recorda tentativa de feminicídio

Shirley Cruz protagoniza 'A Melhor Mãe do Mundo', destaque da Cine PE 2025, que estreia no cinema em agosto

Divulgação
Shirley Cruz na pele de Gal em "A Melhor Mãe do Mundo" Foto: Divulgação

A partir do dia 7 de agosto de 2025, os brasileiros terão a oportunidade de conferir no cinema uma história verdadeira rodeada de fantasia.

“A Melhor Mãe do Mundo”, da diretora Anna Muylaert (que também dirigiu o sucesso “Que Horas Ela Volta?” – 2015), conta a história da catadora de recicláveis Gal (vivida por Shirley Cruz), que decide fugir dos abusos do marido, Leandro (interpretado por Seu Jorge), após tentar denunciá-lo e ser ignorada pela polícia.

A partir daí ela abandona a casa onde morava com o agressor e cria uma realidade paralela para seus filhos, fazendo com que as crianças acreditem que estão vivendo uma grande aventura pela cidade de São Paulo.

A IstoÉ Gente confere o lançamento do longa-metragem no Festival de Cinema de Pernambuco 2025 (Cine PE), que acontece entre os dias 9 e 15 de junho no Recife, capital pernambucana, e conversou com a protagonista do filme.

Shirley revela que, assim como Gal, também é uma sobrevivente da violência doméstica na vida real. A artista, que ficou conhecida por trabalhos como na novela “Bom Sucesso” (2020), da TV Globo, e na série da HBO “Cidade de Deus” (2023), disse que foi vítima de uma tentativa de feminicídio por seu ex-companheiro no passado.

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Ao ser questionada sobre a importância dessa história ser contada por ela, que tem o histórico de agressão sentido na pele, a artista discursou:

“Nós, mulheres, precisamos de viver e não, sobreviver […] Até mesmo antes de falar de dignidade, de oportunidades, a gente tem que falar realmente do direito de estar viva. Então, nesse sentido, eu acho muito difícil que alguma mulher não tenha vivido alguma situação de vulnerabilidade, que a gente sabe que o Brasil faz feio nesse ranking”.

Atriz de novo filme de Anna Muylaert recorda tentativa de feminicídio

Cena do filme “A Melhor Mãe do Mundo” – Divulgação

Entretanto, Shirley destaca que o extermínio de mulheres não acontece apenas no Brasil.

“O mundo trata a mulher muito mal, trata mãe muito mal, né? O que é uma contradição para a pessoa que coloca gente no mundo, né? Que educa essa sociedade, muitas das vezes sozinha, né? Em carreira solo. Então, eu não posso deixar de dizer, porque não é uma vergonha, nem um orgulho, obviamente, mas é uma necessidade, depois que os traumas vão embora, que a gente possa ter consciência que é o meu caso, nesse lugar, de já ter passado por violência doméstica e que poderia ter resultado em um feminicídio”, frisa.

A atriz complementa reforçando a importância das artes como veículo condutor da realidade que muita gente escolhe não enxergar.

“O meu corpo é um corpo a serviço. Eu quero falar de flores, de amores, eu quero fazer rir, mas eu preciso também, junto com a mulher potente, com a Anna [diretora] e todo esse elenco, pegar essa ferramenta que é o audiovisual e fazer com que a gente possa não só repensar, refletir como sociedade, mas agir. Agir, porque eu estou aqui falando por dois minutos e quantas mulheres já não apanharam, já não foram surradas e algumas até morreram? Algumas não, muitas. Então, sobretudo, eu quero chamar atenção para muitas coisas, mas eu acho que a gente tem que se envolver”, finaliza.

*Enviada especial ao Recife, a convite do Cinepe 2025.