Ator Marco França comemora 35 anos de carreira e lança 1º álbum de canções autorais

No elenco de ‘Guerreiros do Sol’, artista relembra trajetória na dramaturgia e na música em bate-papo com IstoÉ Gente

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Ator e músico multi-instrumentista Marco França. Foto: Divulgação.

Marco França fez sua estreia na TV em 2022, após décadas de dedicação à arte e à cultura nordestina. Natural de Natal, capital do Rio Grande do Norte, o ator de 48 anos já brilhava nos palcos muito antes de incorporar o vilão metrossexual Fubá Mimoso de “Mar do Sertão”, personagem que voltou à cena dois depois em “No Rancho Fundo”, ambos folhetins exibidos no horário das 18h da Globo. 

Com 35 anos de carreira, o ator integra o elenco de “Guerreiros do Sol”, novela inédita que estreou em junho no Globoplay e no Globoplay Novelas (antigo Canal Viva), onde interpreta o sanfoneiro Fabiano, fiel amigo do protagonista Josué, vivido por Thomas Aquino. Aliás, há canções de sua autoria na trilha sonora da produção, como “Forrosa” e “Aboio Guerreiro”.

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Músico multi-instrumentista, arranjador, compositor, produtor e diretor musical, Marco França fez diversas direções musicais de espetáculos teatrais e com parceiros como Zeca Baleiro e Chico César. Agora, o artista prepara para seu primeiro álbum de canções autorais, que contém quatro singles lançados recentemente nas plataformas de áudio. O clipe da canção “Colo Cais” também já está disponível no YouTube.

Trabalhando atualmente na direção musical da peça “João”, de Kleber Montanheiro, Marco França tem em seu currículo ainda 5 indicações ao Prêmio Shell, vencendo em 2016 e 2019 pelas trilhas de “A Tempestade” e “Estado de Sítio”, respectivamente. Ele já ganhou o Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem em 2016 por “Peer Gynt” e foi indicado ao Prêmio Bibi Ferreira oito vezes, tendo recebido o de Melhor Arranjo Original por “Tatuagem” em 2022.

A estreia nos cinemas aconteceu recentemente como Maestro Levino no filme “Homem com H”, sobre a vida de Ney Matogrosso.

Marco França atuou e dirigiu projetos do Grupo de Teatro Clowns de Shakespeare durante os 15 anos que foi integrante, tendo com eles participado de festivais por diversos países. 

Em um bate-papo com IstoÉ Gente, o artista potiguar falou sobre sua paixão pela cultura nordestina, e descreveu a alegria de poder levar para os personagens sua arte de fazer música.

 

Na novela “Guerreiros do sol”, no Globoplay, você deu vida a um cangaceiro sanfoneiro. Na vida, você é multi-instrumentista e toca sanfona. Quais outras características você tem de semelhante a Fabiano, seu personagem? E as diferenças?

Olha, posso dizer que a lealdade com os amigos, o bom humor, o prazer pela música e o cuidado e preocupação com o filho Peixinho (apesar de eu não ser pai), certamente, são características que me assemelham com Fabiano. Já o que me distancia dele de imediato, certamente, é a habilidade com o rifle. Sou completamente contra o armamento e a violência. A guerra é a maior estupidez criada pela humanidade.

 

Você tem duas canções na trilha de “Guerreiros do Sol” e está preparando o lançamento do seu primeiro EP autoral para este ano. Quem veio antes: o músico ou o ator? O que inspira suas composições? E como é poder juntar duas funções num trabalho?

Sou músico antes de ator. A minha relação com a música começa desde os meus 12 anos de idade. Aos 15 já trabalhava profissionalmente tocando em bandas de baile e acompanhando artistas no Rio Grande do Norte. O teatro surge pra mim quando comecei a compor para os espetáculos dos grupos em Natal. Logo tive a curiosidade de viver a experiência também como ator em cena. Fui fazendo oficinas de teatro até perceber que as funções de músico e ator se complementavam nos processos de criação. Tocar e atuar ou fazer direções musicais compondo e arranjando passou a ser algo muito natural no meu trabalho. Aprendi que compor é um exercício diário. Inspiração é bom, mas não dá pra sempre depender dela. Às vezes, preciso ser mais pragmático, objetivo, e pra isso a experiência e a técnica ajudam bastante. Tudo pode ser inspiração, inclusive o nada.

 

Você só teve sua primeira oportunidade na TV em 2022, na novela “Mar do sertão”. E sua estreia no cinema foi recente, no filme “Homem com H”. Foi uma escolha ou o mercado que demorou a te descobrir?

Acho que um pouco das duas coisas. Acredito que o olhar pro mercado se ampliou um pouco mais em relação a quem somos e o que produzimos como artistas do Nordeste. E somos muitos, variados, urbanos, sertanejos e contemporâneos. Somos plurais. Somos de sotaques diversos. E ao mesmo tempo sempre foi mais acessível fazer música e teatro em minha cidade (Natal/RN) do que viver experiências no audiovisual, ainda com poucas oportunidades. Principalmente se estivermos falando de quando comecei a trabalhar como ator, há 25 anos. Mas o desejo de experimentar outras linguagens como cinema e TV sempre estiveram presentes comigo.

 

Você tem 35 anos de carreira. Quando percebeu que queria ser artista? E como foi essa trajetória de um artista do Rio Grande do Norte até o sucesso nacional? Cogitou desistir?

Quando ganhei meu primeiro cachê tocando profissionalmente em recepções de festas de 15 anos e casamentos percebi que o prazer que eu tinha em fazer aquilo que parecia uma grande brincadeira, embora eu já levasse muito a sério, poderia me render alguns trocados a mais. A partir dali eu soube que queria fazer isso pra sempre. Tive a sorte e o privilégio de ter tido o apoio desde o início de meus pais, que confiaram e acreditaram nos meus sonhos e persistência. Sempre tive medo e dúvidas em relação ao futuro incerto, a instabilidade de nosso ofício, mas nunca pensei em desistir. Nunca foi fácil. Mas penso que não daria conta de fazer outra coisa, de ser outra pessoa. Não consigo me apartar da essência que me faz ser o artista que sou. É com esses olhos que enxergo o mundo. Não existe um momento do dia que eu seja um não-artista. Não me aposentarei jamais! Não há como.

 

No seu currículo tem várias indicações e premiações por conta do seu trabalho como diretor musical no teatro. Como você percebe o interesse do público e do mercado por produções musicais?

Hoje, a maior fatia de verba no mercado do entretenimento que tem as leis de incentivo fiscal como meio de realização de grandes produções através dos departamentos de marketing empresariais fica com os musicais feitos no Brasil. E não necessariamente originalmente brasileiros. Quanto maior o teatro, maior a capacidade de público para assistir um espetáculo. Cada pessoa ali presente é um cliente em potencial fisgado pelo interesse capitalista dessas empresas “patrocinadoras”. É uma matemática que tem dado certo e enchido os bolsos de quem tem apostado alto em grandes franquias de musicais estrangeiros em solo brasileiro. Mas acho que estamos aprendendo a fazer do nosso jeito e a criar uma identidade bem particular com bastante excelência e qualidade técnica e artística a exemplo de produções brasileiras como: Suassuna – O Auto do Reino do Sol (Barca dos corações Partidos), Tatuagem (direção de Kleber Montanheiro), Homem com H (Paris Cultural), Rita Lee – Uma autobiografia Musical (direção de Marcio Macena e Débora Dubois) e Torto Arado – O Musical (com músicas de Jarbas Bittencourt), isso só pra citar alguns poucos dentre muita coisa boa que temos produzido nos últimos anos. É preciso ampliar os meios de distribuição através de editais, fomentos e iniciativas no âmbito do poder público (municipal, estadual e federal) para contemplar uma classe artística de um país que existe muito além do eixo Rio – São Paulo e que também vai muito além dos musicais.