Ator e diretor Luiz Damasceno comemora 80 anos com peça e exposição

Ronaldo Gutierrez/Divulgação
Foto: Ronaldo Gutierrez/Divulgação

Um dos mais importantes atores de teatro de sua geração, o gaúcho Luiz Damasceno comemora seus 80 anos com o espetáculo Só Ópera e a exposição O Sopro, a partir de 10 de setembro e 24 de setembro, respectivamente . Ambos no formato virtual. Prêmio Shell de teatro, o artista é reconhecido por sua atuação nos palcos do Brasil e do mundo, e também pela formação de grandes atores do teatro brasileiro, como professor da Escola de Arte Dramática EAD/USP por mais de 25 anos. Aluno de Eugênio Kusnet e Gerd Bornheim, nos palcos atuou com diretores como Ademar Guerra, Maurice Vaneau, Gerald Thomas, Mauro Mendonça Filho, Sérgio Ferrara, Bete Coelho, Bob Wilson, William Pereira, Otávio Martins e Jô Soares.

Só Ópera

Novas mídias e redes sociais cada vez mais modernas evidenciam o conflito de gerações, no campo profissional. É o caso de dois radialistas que lutam, cada um à sua maneira, para salvar um tradicional programa de ópera. Inspirado pelo humor radiofônico, Só Opera revisa os clássicos do gênero, como A Flauta Mágica e Carmen, e pela via da paródia, lança um outro olhar sobre o herói. Gravado com três câmeras no Teatro João Caetano, o espetáculo de 70 minutos de duração estreia dia 10 de setembro para temporada on-line de sexta a domingo até 19 de setembro. A ação de passa nos dias atuais, no estúdio de uma emissora. Em cena os atores Luiz Damasceno e Giovani Tozi encarnam dois radialistas, apresentadores de um programa de rádio sobre ópera, respectivamente, o veterano e respeitado Luiz Pavarinni e o novato recém-formado Enzo Valentim.

Ator e diretor Luiz Damasceno comemora 80 anos com peça e exposição
Ronaldo Gutierrez/Divulgação

Entre um e outro número musical, os personagens dramatizam, em diálogos fictícios, paródias de óperas, entre elas Macbeth  (de Verdi, baseada na peça homônima de Shakespeare), A Flauta Mágica (de Mozart), Carmen (de Georges Bizet, baseada na romance homônimo de Prosper Mérimée), Romeu e Julieta (de Charles Gounod, baseada na obra de Shakespeare) e Arca de Noé (de Benjamin Britten).  Só Opera estreia em 2021 como uma das comemorações dos 80 anos de Luiz Damasceno. O ator e diretor, responsável por dezenas de atores através da EAD, onde foi professor por mais de 25 anos, tem uma longa parceria com Giovani Tozi. A dupla trabalhou junto pela primeira vez em 2009, em  “O Colecionador de Crepúsculos”, de Vladimir Capella, quando Giovani Tozi foi contemplado pelo Prêmio Coca-Cola ao interpretar o filho caipira de Damasceno. Eram contos de Câmara Cascudo e o elenco contava também com Selma Egrei.

“Na peça ele me provocava o tempo todo, entendi ali o que era jogo. Damasceno é uma pessoa muito importante na minha vida. Foi uma baita escola. Devo a ele muito da minha trajetória profissional no teatro.” De lá pra cá, somam-se vários trabalhos e projetos, incluindo a mostra de artes plásticas SOPRO, projeto de Tozi que compartilhará, pela primeira vez, um pouco das mais de 50 obras que Luiz Damasceno produziu durante toda sua trajetória. Sobre a montagem, pelo fato dos dois artistas terem feito vários trabalhos juntos, a direção é um processo desenvolvido a quatro mãos e com delicadeza. “Nossa dupla dá certo porque sou mais da encenação, enquanto Dama foca na direção de ator. A gente se complementa”, conta Tozi.

“É muito divertido fazer a peça, é brincadeira em cima de brincadeira”, diz Damasceno. Mesmo sendo comédia, a peça abriga uma camada densa na trama. Ao revelar a dificuldade do ser humano de mais idade com as novas mídias, a história mostra o personagem de Damasceno perdendo o controle, o domínio absoluto de uma situação vivenciada durante muitos anos. Luiz Damasceno, que recentemente dirigiu Tozi em Peixe Cabeça de Cobra e fez participação em Não se Mate, ambas no formato virtual. Damasceno acredita que o risco do online é cair no teatro filmado (“aí não dá para aguentar”). Sua expectativa para o novo espetáculo é que a edição consiga chegar na linguagem televisa, com a possibilidade de cortes proveniente da diversidade de tomadas. “A esperança é levar a peça para o espaço de um teatro.” Quando não está no palco ao lado de Giovani, Damasceno atua como coach do parceiro, que sempre dá um jeito de convidar o amigo para entrar na equipe de suas produções.

Só Ópera se apoia no rádio, para desenrolar uma história sobre progresso e inovação. Contudo, o veículo “rádio” figura como um elemento sintético, de todos os demais canais de comunicação, seja ele do terreno do entretenimento, como a televisão, seja no campo das artes, como o próprio teatro. Refletir sobre tecnologia em áreas essencialmente humanas, gera uma série de controvérsias, afinal, em que medida algo que depende da interlocução entre duas pessoas pode sofrer uma interferência positiva da máquina? Responder qualquer questão relacionada a esse entrave pode ser precipitado, uma vez que a popularização e o acesso massivo do fenômeno digital tem raízes curtas. Só Opera propõe, portanto, que pensemos sobre esse movimento, e oferece a comédia, gênero mais popular dos palcos brasileiros, para que isso seja feito.

Giovani Tozi assina o texto e a direção, consolidando seu quarto trabalho na condução de espetáculos de teatro e dança, criados para o ambiente on-line, durante a pandemia. Seu último trabalho teatral, Não Se Mate, monólogo protagonizado por Leonardo Miggiorin, foi apontado pela crítica como uma das mais importantes estreias da temporada, com destaque para a dramaturgia de Tozi, pelo Observatório do Teatro, no Uol.

O espetáculo Quiquiriqui estreou em 2019, com direção da própria Neyde Veneziano. O elenco era formado por Giovani Tozi e Luiz Damasceno, e por Eugênio La Salvia, que, além de atuar, era responsável por executar a trilha sonora ao vivo. Veneziano, que dedicou seu pós-doutorado a Dario Fo, percebeu que o que era feito em Quiquiriqui não era mais Dario Fo, e sim um desdobramento de uma das páginas de sua vasta obra. Diante dessa percepção, Tozi iniciou um processo de reescrita da obra, almejando a aplicação de sua pesquisa em direção teatral e sobre a autonomia dramatúrgica, descolando-se dos manuscritos de Fo.

O Sopro

Desde garoto o ator e diretor Luiz Damasceno gosta de pintar. Um dia chegou em casa e disse ‘olha me inscrevi na escolinha de arte’. O garoto desenvolto devia ter uns 9 anos, procurou a professora e falou que queria participar. “Olhei pelas janelas e vi todo mundo brincando, pensei ‘que mundo maravilhoso é esse’. E nunca parei de pintar. Sempre que tinha um tempo disponível eu pintava.”  Gaúcho de Porto Alegre, quando chegou em São Paulo, em 1971, aos vinte e poucos anos precisou escolher entre pintar e fazer teatro. Ficou com o primeiro. “Sem pintura eu sobrevivo, sem teatro não.” A escolha não freou sua produção e a pintura seguiu como hobby até que veio a pandemia e Damasceno produziu 70 quadros em acrílico sobre tela. “Foi enlouquecedor. Tem muito material. A mostra vai exibir alguns.”

Todas as obras estão na sua casa. Só na sala ele contou 29, pendurados ou no chão, encostados na parede. Outros tantos ficam no quarto da área de serviço. “Parei de comprar tela, ou páro de pintar ou terei de sair do apartamento, pensei.

A mostra online servirá como um aperitivo, pois o sonho é levar O Sopro para um espaço físico, onde os quadros possam ser comercializados. “Se na exposição quiserem comprar será ótimo, não tenho mais lugar aqui em casa. Daqui a pouco não dá mais para abrir a porta.”

O Sopro ganhou este título, conferido pelo ator e diretor Giovani Tozi, responsável pela produção da exposição, pela própria técnica desenvolvida pelo artista. Pincel em punho, Luiz Damasceno começa o processo por manchar a tela, aleatoriamente, com tinta acrílica bem aguada. A partir do que a imagem lhe sugere, ele segue sua inspiração. “Não gosto de formas realistas, proporcionais, prefiro figuras fantásticas”.

Alegres em sua maioria, devido à escolha das cores, os quadros exibidos nesta mostra online seguem o recorte temático As Mulheres. Alguns trazem figuras de animais (“pequenos ou não, eles estão lá”) e tem também o tema circo (“eu achava mágico ir ao circo”). A Mulher de Luva Laranja, A Velha Senhora, O Caminho de Casa, Passeio no Parque Público, Que horas são?, Retrato de Josephine Baker, A Lagarta, Folhetim e Ensaio Geral são algumas das obras.

Temporada Só Ópera

TEATRO ARTHUR AZEVEDO.

Dias 10, 11 e 12 de setembro de 2021Sexta e Sábado às 21h e Domingo às 19h. 

Ingresso – gratuito (Evento Online).

Link de acesso – Facebook

E pelo canal Teatro Arthur Azevedo SP no YouTube

 

TEATRO JOÃO CAETANO

Dias 17, 18 e 19 de setembro de 2021Sexta e Sábado às 21h e Domingo às 19h. 

Ingresso: gratuito (Evento Online). –

Link de acesso – Facebook

E no canal Teatro João Caetano São Paulo no YouTube

Duração: 70 minutos. Classificação Indicativa: 12 anos.

Ficha Técnica 

Texto e Direção: Giovani Tozi. Com: Luiz Damasceno e Giovani Tozi. Luz: André Lemes.  Diretor de Vídeo: Matheus Luz. Fotografia: Ronaldo Gutierrez. Edição: João Martinez.

Produção: Bruno Tozi. Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Teixeira e Macida Joachim – Arteplural. Administração: Carlos Gustavo Poggio. Contadora: Andressa Cherione.

Realização: Tozi Produções Artísticas.

 

Temporada exposição O Sopro

 

Estreia: 24 de setembro de 2021 | sexta, 20h

Espaço Cultural Bricabraque on-line

Acesso: www.youtube.com/giovanitozi

Grátis | * após o lançamento o conteúdo ficará liberado para a visitação

Ficha Técnica

 

Obras: Luiz Damasceno

Direção e concepção geral: Giovani Tozi

Performance: Louise Helène

Direção de audio visual: Matheus Luz

Trilha Sonora: Invisible – NTO

Produção: Bruno Tozi

Administração: Carlos Gustavo Poggio

Idealização: Giovani Tozi

Assessoria de Imprensa: Maria Fernanda Teixeira – Arte Plural