Na manhã desta quinta-feira 11, a Carta em Defesa da Democracia, que já conta com mais de 950 mil assinaturas, e o manifesto organizado por 107 entidades (empresariais, centrais sindicais e movimentos estudantis) foram lidos em um ato realizado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP). Além dos convidados, apoiadores do movimento puderam acompanhar do lado de fora do prédio histórico por meio de telões.

O encontro é resultado da mobilização da sociedade a favor da democracia e contra os constantes discursos golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL). A gota d’água ocorreu no último dia 18, quando ele, durante uma reunião com diplomatas estrangeiros, criticou o sistema eleitoral brasileiro e levantou dúvidas sobre a eficácia das urnas eletrônicas.

O número de personalidades que assinaram os dois documentos representa, de forma explícita, uma prova do descontentamento da sociedade com as críticas de Bolsonaro às eleições. O ato possui enorme relevância ao reunir, de forma apartidária, empresários, políticos, intelectuais, artistas, jornalistas e cidadãos que, apesar das inclinações políticas diferentes, têm em comum a defesa do Estado de Direito e a democracia.

O manifesto capitaneado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), “Em Defesa da Democracia e Justiça”, se contrapõe aos ataques do atual presidente da República ao sistema eleitoral. O primeiro a discursar, para cerca de 800 pessoas, no salão nobre do prédio, foi o reitor da Universidade de Direito da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior. “Queremos eleições livres e tranquilas, um processo eleitoral sem fake news, pós-verdades ou intimidações. Estamos voltados a impedir retrocessos. Espero que essa mobilização nos coloque novamente no caminho correto na discussão do futuro de São Paulo e do Brasil”. Após a leitura da carta, a plateia que acompanhava o ato de dentro do prédio gritou “Fora, Bolsonaro”.

No caso do documento redigido por juristas, “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, a inspiração veio de um documento semelhante organizado em 1977 contra a ditadura militar de 1964. Embora não o mencione, as críticas ao Chefe do Executivo são diretas: “Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil, à incitação a violência e à ruptura da ordem constitucional”.

O ato de hoje, que incluiu ao menos 15 eventos em instituições de ensino superior espalhadas pelo País, entre elas a Universidade de Brasília (DF) e PUC-Rio (RJ), está longe de ser uma mera “cartinha”, como Bolsonaro a chamou. É um movimento de união na sociedade brasileira, pessoas com origens e classes diferentes que compartilharam o mesmo objetivo: informar ao presidente da República que vivemos em uma democracia e que o próximo a ocupar o Palácio do Planalto será escolhido pelo voto dos eleitores e de acordo com o resultado proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Embora expressa em outras palavras, essa é a principal mensagem.