O ato convocado na segunda-feira, 8, por movimentos sociais em alusão ao 8 de Janeiro na Avenida Paulista ofereceu palanque para o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) desgastar a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e convocar apoiadores para dar um “recado contra o bolsonarismo” em outubro. Ele será candidato a prefeito com apoio do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos acusou o adversário de perseguir o padre Júlio Lancellotti depois que o religioso foi anunciado como um dos principais alvos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil) na Câmara Municipal de São Paulo. O prefeito alega que soube da iniciativa somente pelo noticiário.

“Estamos aqui hoje para defender a democracia, mas também para dizer que a gente não vai aceitar o ataque e a tentativa de desmoralização do padre Júlio e dos movimentos sociais”, declarou Boulos. “São Paulo precisa de uma CPI, mas não sobre o padre Júlio. A CPI que São Paulo precisa é aquela que vai explicar por que a cidade mais rica do Brasil tem mais de 50 mil pessoas na rua.”

Em nota nesta semana, após o início das mobilizações da bancada do PSOL para abrir uma CPI sobre o assunto com foco na prefeitura, a Prefeitura defendeu suas políticas para a população de rua e afirmou que “Ricardo Nunes não interfere em decisões da Câmara, procurando manter de forma transparente a independência entre o Executivo e o Legislativo”.

O próprio Ricardo Nunes disse, em entrevista à CNN, que ligou para o padre para “tranquilizá-lo” e prestar apoio a ele.

No ato desta segunda-feira, Guilherme Boulos também pediu a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), repetindo em seu discurso o bordão “sem anistia”, que pede a responsabilização dos mentores do ataque golpista aos Três Poderes. “Não é por vingança, ressentimento ou rancor, mas por justiça. É para que nunca mais se repita e para dizer que essa linha não pode ser ultrapassada”, disse Boulos.

O ato na Paulista ocorreu no final da tarde, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Políticos de diversos partidos de esquerda, como PSOL, PT, Rede e PCdoB, e representantes de movimentos sociais se revezaram ao microfone em cima de um carro de som estacionado em um dos lados da faixa, sob forte esquema de segurança da Polícia Militar de São Paulo.

O evento foi encerrado com uma caminhada acompanhando o carro de som e sob escolta da PM.

O padre Júlio Lancellotti teria confirmado presença aos organizadores e aparece em cards divulgados nas redes sociais, mas não compareceu ao evento.

Ato pede prisão de Bolsonaro e militares

Bolsonaro foi o mais visado na manifestação em repúdio ao 8 de Janeiro em São Paulo. Manifestantes carregavam placas de “Bolsonaro na cadeia”, e panfletos com a frase foram entregues ao público por estudantes e integrantes de movimentos sociais, como CUT e MTST.

O ex-presidente foi chamado de “genocida”, “ladrão”, “chefe de quadrilha” e até de “coisa ruim”, em uma referência religiosa.

O pastor Levi Araújo, da Igreja Batista, pediu aos manifestantes que orassem o Pai Nosso no início do evento. A prece foi encerrada com um apelo para Deus “nos livrar dos malignos, dos golpes contra a democracia”.

Os pedidos de punição também se estenderam a militares investigados nos inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) fez uma crítica indireta ao governo Lula ao pedir a saída do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. “Ele não pode continuar passando pano para militar golpista”, discursou o parlamentar. A fala foi acompanhada de sinalizações de apoio.

Outro foco de reclamações foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a privatização da Companhia Estadual de Saneamento Básico (Sabesp).

Vivian Mendes, uma das manifestantes presas após confusão com policiais militares no plenário da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), representou o partido Unidade Popular (UP) no ato.

Vários manifestantes também pediam o fim da ocupação na Palestina, e uma faixa defendia o fim das relações entre o governo federal e o Estado de Israel.