ROMA, 3 OUT (ANSA) – Uma marcha realizada nesta quarta-feira (3) em Lampedusa, ilha do sul da Itália, relembrou os cinco anos do naufrágio do dia 3 de outubro de 2013, ocorrido na costa local, quando 368 imigrantes africanos morreram ao tentarem atravessar o Mar Mediterrâneo. “Nós estamos aqui, como em todos os anos, mas desta vez o governo não está”, disse o prefeito da cidade, Totò Martello, que participou da marcha. “Em Lampedusa, os portos estão abertos. Os barcos com migrantes atracam diretamente. Quando me dizem que não há tempo para organizar visitas de escolas europeias [a Lampedusa], vejo uma tentativa flagrante de impedir a veiculação da história, da memória e da verdade. Lampedusa é incômoda para o poder político. Estamos aqui para recordar fatos trágicos e a resposta da Itália e da Europa é o silêncio. Há uma tentativa de apagar a história recente”, disse Martello.   

“Soube que haverá hoje no Congresso uma cerimônia, mas aqui em Lampedusa, não há nenhum representante de instituições nacionais”, afirmou Tareke Brhane, membro do Comitê 3 de outubro, criado para defender vítimas. Em 2014, primeiro aniversário da tragédia, o atual presidente do Parlamento da União Europeia, Martin Schulz, compareceu aos atos de homenagem.   

Já em 2015, o comissário da UE, Dimitri Avramopoulos, marcou presença somente dias depois do aniversário. Desde então, nem o governo nem a UE compareceram aos atos de homenagem.   

Participaram da marcha, realizada na Porta D’Europa, em Lampedusa, cidadãos, representantes de instituições de defesa dos direitos humanos e centenas de estudantes de 15 escolas italianas. Pescadores e sobreviventes navegaram até o local do naufrágio e jogaram flores na água, em homenagem às vítimas. “O dia 3 de outubro tornou-se o ‘Dia da Memória e do Acolhimento’ na Itália em 2016 e acontece no momento em que a travessia do Mar Mediterrâneo é mais perigosa do que nunca.   

Somente em 2018, foram reportadas mortes e desaparecimentos de 1720 pessoas. É um custo humano inaceitável”, relatou a UNHCR, a agência do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados.   

Outro recente estudo, realizado pela ONG “Viagens Desesperadas” também evidenciou uma queda no número de pessoas que chegam à Europa por mar. A taxa de mortalidade do migrantes teve aumento significativo, passando para uma a cada 42 pessoas entre janeiro e julho de 2017 para uma a cada 18 no mesmo período de 2018.   

O mesmo relatório revela como fator determinante para as mortes a redução da capacidade de busca e socorro na costa da Líbia . A UNHCR elogiou os esforços da Guarda Costeira italiana, da Marinha e das ONGs empenhadas a salvar vidas no Mar Mediterrâneo, mas continua a pedir que a capacidade de buscas e resgates na região seja reforçada.   

“Os salvamentos de seres humanos devem ser prioritários, devem ser intensificados e tornarem-se mais concretos”, diz o UNHCR.   

“Os esforços para fornecer vias legais de acesso ao território como um corredor humanitário, a reunião famílias, os assentamentos e os vistos de estudo e trabalho são alternativas eficazes que têm como objetivo que as pessoas fujam da guerra, violência e perseguição e possam chegar a um lugar seguro sem terem de recorrer aos traficantes de seres humanos e fazer viagens tão desesperadas e perigosas”, acrescenta o relatório. O naufrágio de cinco anos atrás é considerado uma das piores tragédias da história do Mediterrâneo e foi o estopim para a criação da operação militar italiana “Mare Nostrum”, destinada a resgatar embarcações superlotadas na região. Mais tarde, a iniciativa foi substituída por uma força-tarefa europeia, mas o papel mais ativo continua sendo de Roma.   

A maioria dos imigrantes do barco era formada por eritreus, somalis e ganeses, que pagaram cerca de US$ 3 mil cada um a traficantes de seres humanos para fazer a viagem. (ANSA)