O Conselho Deliberativo do Clube Atlético Mineiro – não confundir com Atlético Mineiro SAF, que terá seu próprio Conselho -, convocou seus membros para uma assembleia nesta quinta-feira (30), cujo tema mais espinhoso será a discussão e votação da cassação do mandato de um conselheiro benemérito e, ato contínuo, sua expulsão do quadro associativo do Clube.

Quem está familiarizado com os atritos internos do alvinegro sabe que se trata de Cláudio Utsch, aliado histórico do ex-presidente do Galo, Alexandre Kalil, e assim como o também ex-prefeito de Belo Horizonte, um feroz desafeto dos chamados 4Rs, hoje, donos de tudo o que se refere ao futebol do Atlético (time, Arena MRV, Cidade do Galo etc.).

KALIL PAI E FILHO

Essa briga não é nova, e ganhou contornos mais sérios a partir da reunião do Conselho do Clube, em 2022, que pretendia anular a assembleia que definiu – de forma irregular perante o estatuto atleticano – o nome do ex-presidente e pai de Alexandre, Elias Kalil, para a Arena MRV. Na ocasião, por unanimidade dos presentes (mais de 200 conselheiros), sob intensas vaias, Kalil e seu aliado, Utsch, viram a decisão anterior,de 2017, ser revogada justamente.

Antes da assembleia, Kalil e seus aliados, dentre eles atleticanos ilustres como Rodolfo Gropen e Lásaro Cândido, ex-dirigentes do Galo, divulgaram informações inverídicas na imprensa, alegando que a eleição do Conselho atual fora irregular. Já Utsch foi além, e acusou de estelionatários o presidente do Conselho, Ricardo Guimarães, e demais diretores do Clube.

JUDICIALIZAÇÃO

Delegado da Polícia Civil, Cláudio Utsch já foi investigado por supostas irregularidades cometidas no Detran-MG e, dias atrás, se envolveu em um rumoroso caso em que foi acusado de atitude racista por se manifestar contrário ao Dia da Consciência Negra. Atleticano fanático, não costuma economizar nas ofensas e nas críticas quando o assunto é o Galo e a atual diretoria.

Em redes sociais, escreve textos ofensivos, difamatórios e caluniosos sobre os acionistas da SAF atleticana, e chegou a judicializar a eleição do Conselho Deliberativo da qual participou, em parte, como presidente do Conselho de Ética, justamente o órgão da Associação responsável por validar as chapas, que passou a considerar ilegal após o caso citado acima (nome da Arena).

AÇÕES CRIMINAIS

Vítimas, em tese, de calúnias, alguns dirigentes alvinegros (e até mesmo amigos destes) movem ações criminais contra Utsch. Adjetivos como ratos, ladrões e outros palavrões impublicáveis, ao lado de acusações (sem provas) de desvios, são feitas com muita frequência pelo delegado, o que também fere o estatuto do Atlético.

Toda associação possui uma “constituição”, o estatuto, que, via de regra, prevê penalidades para o associado que, de alguma forma, prejudique deliberadamente seus pares e/ou concorra para a má imagem da associação. No Atlético isso não é diferente e o Conselho de Ética do Clube, provocado pelos ofendidos, analisou os fatos e emitiu seu parecer.

EXPULSÃO À VISTA

Por ampla maioria de votos, os membros deste órgão – após procurados por mais de 100 outros conselheiros do Clube – recomendaram a cassação do título de Conselheiro Benemérito de Cláudio Utsch, bem como sua expulsão do quadro associativo do Galo. O estatuto exige que, em assembleia com propósito específico, o Conselho Deliberativo vote o parecer. Eis o que tratará, dentre outros assuntos, a reunião desta quinta-feira na sede de Lourdes.

Todos que conhecem a história e os envolvidos esperam um clima para lá de quente, já que Utsch deverá comparecer e, como de costume, fará uso da palavra. Em uma reunião ocorrida há anos, o delegado, inclusive, entrou no auditório onde são realizadas as assembleias, portando sua arma de fogo. Especula-se que, além de seguranças, o Atlético irá providenciar um detetor de metais esta noite.

OUTRO LADO

Se, fora do campo, o Galo vive fortes emoções, já que recentemente aprovou sua SAF, inaugurou a Arena MRV e agora vê-se às voltas com mais essa rinha política, envolvendo um aliado de Alexandre Kalil – que não se conforma com o andamento do Clube -, dentro do campo, o alvinegro encontrou um caminho mais tranquilo e figura entre os três primeiros colocados, disputando, ponto a ponto, o título do Campeonato Brasileiro.

Quando dizem que futebol, política e religião não se discute, não é à toa. Paixões, por si só, já são tensas, irracionais e imprevisíveis o suficiente. Quando mistura-se, ainda, disputa por poder – e dinheiro -, tudo piora. Alexandre Kalil presidiu o Atlético por anos e dominou, por outros tantos, as gestões do Clube, levando a instituição centenária à bancarrota e às piores páginas do noticiário esportivo.

Em recente Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), cujo objetivo era investigar possíveis atos de abuso de poder de Kalil frente à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), uma prestadora de serviços do CAM declarou que custeava, do próprio bolso, despesas pessoais (em hotéis de luxo) do ex-presidente atleticano. Talvez resida, aí, parte da indignação de Kalil com o fato de o Galo, hoje, ter se tornado uma empresa.