Muitos atletas de ponta e até campeões olímpicos usam uma técnica de positivação da mente para ter um desempenho melhor na hora da disputa. Esse trabalho faz parte do próprio treinamento do esportista, como as atividades físicas ou o aprimoramento técnico. Segundo eles, contribui para a melhora da performance e da produtividade.

“A meditação me ajuda a equilibrar as minhas emoções e focar no momento presente. Isso serve como um treinamento para que eu possa levar isso para dentro de quadra em momentos mais tensos”, explica o levantador Bruninho, campeão olímpico de vôlei nos Jogos do Rio, em 2016. Ele é um adpeto da prática.

Quem também usa a técnica do fortalecimento da mente para se dar bem nos jogos é o jogador Raulzinho, do Washington Wizards, da NBA. “A meditação me ajuda bastante dentro da quadra. Me ajuda com foco no que tenho de fazer, com as distrações que a gente tem durante um jogo ou treino, me ajuda a focar no momento, naquilo que estou fazendo na hora, sem deixar que coisas de fora possam atrapalhar (meu desempenho), como torcida, juiz, adversário, provocações, que são coisas naturais do esporte”, diz.

Os dois fazem o trabalho com Giuliano Milan, que presta consultoria de alta performance para executivos, empresários e atletas olímpicos. “No alto rendimento é fundamental fazer um trabalho específico, identificando as necessidades individuais. Mas basicamente o processo segue um caminho que começa com informação. Precisamos entender como o cérebro funciona e por quê nos sentimos estressados, amedrontados ou paralisados diante de situações de muita pressão”, explica.

No futebol, quem bate muito nesta tecla é o treinador do Palmeiras, Abel Ferreira. Ele defende junto a seus jogadores a importância da condição mental e do foco, da cabeça boa, para realizar as funções dentro de campo. Chegou a dizer que quando o jogador brasileiro aprender a lidar melhor com suas emoções, ele se tornará o melhor do mundo.

PROCEDIMENTO – Milan introduz alguns exercícios básicos, como a contagem de respiração e a criação de um diário de momentos positivos, até chegar na meditação. “Essas atividades aliviam automaticamente a tendência natural de nossos cérebros se estressarem, mas é necessário respeitar esse avanço gradual, pois nossa mente vai se adaptar ao processo. É a mesma coisa que alguém que esteja sem treinar seu corpo há muito tempo. É preciso começar aos poucos.”

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O profissional lembra que muitas pessoas ficam surpresas com a quantidade de grandes campeões que usam a meditação como parte do treinamento, mas reforça que é preciso evitar a confusão entre a meditação científica com a religiosa. “O que fazemos é um treinamento de gestão de estresse. Trabalhando a mente através da meditação, os atletas conseguem ter mais foco, tranquilidade e concentração nos momentos de grande tensão. Isso não garante o sucesso, mas os coloca em uma zona onde têm muito mais chances de vencer.”

Raulzinho ressalta a importância dessa atividade para ele no basquete. “A meditação me ajuda a conseguir entrar num ‘flow’ e aproveitar o momento. E fora de quadra, a recuperação de um jogo, o descanso, isso tudo me ajuda. A meditação me ajuda a relaxar o corpo, não ficar tão estressado e até dormir melhor. É uma ferramenta que me auxilia nesses momentos”, diz.

Giuliano explica que a meditação não é inserida entre o treinamento, mas faz parte do trabalho de aprimoramento. Então os atletas são acompanhados de médicos nutrólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, mas também dedicam parte do tempo para cuidar da mente, em práticas diárias. “É preciso comprometimento desde o início, principalmente para superar os obstáculos iniciais que o desconhecido traz. Não só os atletas, mas qualquer pessoa que queira utilizar a positivação da mente precisa enxergar o poder do hábito, do avanço gradual, valorizando cada passo dado. E os grandes campeões estão acostumados a valorizar os processos, o trabalho diário.”

Além de Bruninho e Raulzinho, o especialista trabalhou com estrelas da natação como Thiago Pereira e Fernando Scherer, com Fabiana Moraes, do atletismo, Lucas Moura, atacante do Tottenham, Tiago Splitter, que jogou na NBA, Pedro Piquet, do automobilismo, além dos campeões olímpicos de vôlei Lucão, Lucarelli e Eder.

“Esse público precisa manter a alta performance em todos os momentos. Mesmo quando não estão bem, com desafios na vida pessoal ou cansados, eles vivem sob pressão intensa. E o grande ‘segredo’ é tratar o condicionamento da mente como costumamos tratar o condicionamento físico. Sempre digo que um atleta profissional, um CEO ou um empreendedor vão tomar melhores decisões, vão performar melhor se estiverem felizes, capazes de se concentrar, de manter o foco no que precisam naquele momento chave”, diz Giuliano, que em seu canal “Positive sua mente”, no Youtube, faz um passo a passo para quem quiser começar a praticar.

Ele garante que isso só é possível com treinamento diário. “Não tem mágica nem fórmula secreta. Deixo claro para todos que é um processo e que precisa de dedicação. Quem disser que é fácil, está mentindo. Mas os resultados compensam, sem dúvida. E funciona para todo mundo, não só para os atletas de ponta. Qualquer pessoa que queira aumentar sua performance com qualidade de vida pode buscar no treinamento do cérebro, na positivação da mente, na meditação, um caminho.”

Giuliano explica que é possível um atleta de desempenho mediano melhorar seu rendimento com técnicas de positivação do cérebro. “Qualquer ser humano comprometido em usar as técnicas e ferramentas de positivação da mente pode melhorar sua performance. E com qualidade de vida. A ciência evoluiu muito e trouxe uma compreensão mais precisa de como nosso cérebro funciona. A tendência natural é ele se estressar diante de pressão, afinal é um órgão que existe para garantir nossa sobrevivência, a qualquer custo. O cérebro é como uma máquina de escaneamento de medo e ameaças, que funciona além do nosso controle, de forma inconsciente. E a positivação da mente nos dá esse controle, dá a clareza nos momentos mais difíceis e isso vai impactar diretamente no desempenho. Em qualquer modalidade, em qualquer carreira.”


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