Em nove anos como profissional, o corredor Anderson Henriques passou por muitas crises. No final de 2016, perdeu o patrocínio pessoal de duas marcas esportivas. No ano seguinte, seu salário como atleta foi reduzido em 22%. A diminuição no holerite atrapalhou obviamente a vida pessoal. Ele teve de reduzir a ajuda que dava em casa. Filho único, sua mãe é cuidadora de idosos e o pai trabalha como montador de móveis no Rio Grande do Sul.

Para suportar a crise atual, que novamente transforma sua vida em uma prova de 400 metros com muitos obstáculos, ele se segura no salário como atleta da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa) e também na remuneração como 3º sargento técnico temporário – ele integra o Exército desde 2014.

A crise financeira acaba esbarrando no desempenho profissional. No ano passado, o técnico Leonardo Ribas, com quem trabalhava havia nove anos, acabou demitido. Isso não é pouca coisa. A projeção para os dois próximos ciclos olímpicos foi comprometida.

Todas essas “intempéries” deixaram o atleta de 26 anos desesperançoso. “O esporte brasileiro será como sempre foi. Resultados isolados, de atletas que são muito dedicados e continuam buscando seus objetivos. Não vejo muitas perspectivas de melhora, tendo em vista que não somos um país de cultura esportiva”, critica o atleta.

Anderson aprendeu a conviver com as mudanças de humor do mercado brasileiro de patrocínio esportivo. E virou um poupador. “Sou consciente da insegurança que é ser um atleta de alto rendimento. Uma temporada você pode ganhar R$ 20 mil e na outra nada. Mantenho um padrão de vida sem muitos gastos e com investimento”, conta.

Ele é o dono da segunda melhor marca da história do atletismo brasileiro nos 400m rasos com 44s95 e medalha de ouro nos Jogos Mundiais Universitários, a Universíade, em 2014. Finalista dos 400m e do revezamento 4x400m no Mundial de 2013, quando tinha apenas 21 anos, Anderson ficou fora dos Jogos do Rio por causa de seguidas lesões em 2015 e 2016. A mais séria foi uma fascite plantar.

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O velocista aponta o PAAR (Programa de Atletas de Alto Rendimento) do Ministério da Defesa como um porto seguro. “O programa proporciona estrutura, benefícios, salário, divulgação das Forças Armadas e representação em competições internacionais”, diz. “É uma das melhores formas de apoio e incentivo aos atletas de alto rendimento no Brasil”, elogia.

Apesar das dificuldades, ele se mantém otimista com as principais competições do ano, como Mundial de Atletismo, o Mundial das Forças Armadas e o Pan-Americano de Lima. “Meu objetivo é estar classificado para todas, tendo o melhor desempenho possível e melhorando minha marca pessoal”, diz.

O técnico de atletismo da Sogipa, José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, diz que ele está em ascensão. “Todo atleta que sofre uma lesão grave passa por uma reinvenção. Ele pode repetir suas melhores marcas e se aproximar de uma das vagas nos 400m para os Jogos de Tóquio”, diz.


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