Denis Henrique de Oliveira nasceu em 29 de abril de 1989. Neste ano, portanto, completou 31 de vida. Mas pode-se dizer também que, a partir de 2020, o dia 24 de setembro terá bolo e muita, muita comemoração. Foi quando Denão, como é carinhosamente conhecido no meio do goalball, descobriu que estava curado de um linfoma, um tipo de câncer que se origina nas células do sistema linfático – responsável pela defesa do organismo.

– Parece que o peso de um prédio todo sai das tuas costas. Eu fiquei em choque, não sabia se chorava, se agradecia – conta o ala/pivô do Sesi, atual campeão da Copa Loterias Caixa, e com passagens pela Seleção Brasileira – em 2019, conquistou a Malmo Cüp, na Suécia.

Aliás, foi durante uma fase de treinamento com a Seleção, em dezembro passado, que a vida de Denis mudou completamente. Já no Brasileiro de goalball, realizado dois meses antes, ele começou a se sentir mais cansado. Uma alergia também espalhara bolinhas pelo corpo. O sintoma final veio quando ele apalpou o pescoço e notou a presença de nódulos. Após realizar os exames, seguiu à espera dos resultados ainda concentrado com os colegas no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo.

– Foi a notícia mais difícil da minha vida. Como sou criado em uma família muito simples, associava a palavra câncer com a morte, praticamente. O pensamento era de quanto tempo eu ainda teria, na verdade. Você desabafa, chora, tenta entender por que isso aconteceu. Mas não tem uma explicação – relata.

Como se não bastasse o impacto da notícia, Denão, justamente quem mais necessitava de colo, foi quem precisou consolar familiares, especialmente a esposa Tamires e a filha Eloiza, de apenas seis anos, e os amigos. E ser forte, mesmo quando a vontade era de desabar.

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– O dia mais difícil é o de quando você recebe a notícia de que está com câncer. Ter de entrar em casa, contar para a família… Até absorver tudo isso e transformar em motivação, é muito difícil – explica.

Mas o apoio recebido depois foi também o que ajudou o atleta a aguentar os enjoos e dores de cabeça, efeitos colaterais das sessões quinzenais de quimioterapia. E até a queda de cabelo se tornou um símbolo positivo quando os colegas de Seleção rasparam a cabeça em solidariedade e gravaram um vídeo na internet com a hashtag #unidospeloDenis.

Coronavírus e futuro
O tratamento deu resultado de imediato, e os sinais vinham dias depois da quimio, com o inchaço no pescoço regredindo e os exames mostrando melhora gradual do quadro. Em junho, porém, surgiu outro baque: entre idas e vindas ao hospital, Denis acabou diagnosticado com a Covid-19. Como se não bastasse a preocupação pelo vírus que já matou mais de 140 mil brasileiros, as sessões de quimioterapia precisaram ser interrompidas durante um mês.

– Foi outro momento bem difícil, fiquei isolado no hospital. E os médicos diziam que o risco maior estava a partir do sétimo dia, então ficava pensando no que poderia acontecer. Só o quarto teste é que mostrou que o vírus não estava mais ativo – diz o jogador, que nasceu com a Doença de Stargardt, manifestação mais comum de degeneração macular juvenil, que leva à perda progressiva da visão.

Superado o obstáculo mais desafiador de sua vida, Denis não esconde o sorriso largo quando fala dos planos para o futuro. Já liberado para retornar aos treinos com a bola azul, ele pensa em um dia disputar uma Paralimpíada:

– Tudo o que aconteceu só me fortaleceu mais. A minha vontade é de viver cada dia ao máximo, de dar mais atenção à minha filha e à minha esposa. Se eu venci isso, qual o limite para o meu sonho?


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