A ativista brasileira Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, morreu nesta segunda-feira (3), aos 100 anos, de causas naturais. Ela estava hospitalizada havia alguns dias e foi intubada, segundo comunicado da Associação Mulheres Pela Paz, da qual era fundadora e presidenta.
Para a organização, Clara “deixa um legado de lutas pelos direitos humanos e equidade de gênero”. E continua: “Clara foi grande. Foi do tamanho dos seus 100 anos. Difícil dizer que ela apagou. Porque uma vida com tamanha luminosidade fica gravada em todas e todos que tiveram o enorme privilégio de aprender com ela. Vá em paz, querida guerreira.”
Clara Charf deixa um imenso legado com projetos de conscientização pelos direitos das mulheres, batalha que travou ao longo de sua vida.
Nas redes sociais, políticos e famosos lamentaram a morte dela. “Clara Charf foi uma das maiores militantes de esquerda do Brasil ao longo de um século de vida. Desde os 21 anos militou no Partido Comunista Brasileiro de Prestes. Foi companheira de Carlos Marighella e lutaram juntos contra a ditadura militar. Viveu no exílio após o assassinato do companheiro. Em 1979 voltou ao Brasil e filou-se ao PT, participando da construção do partido, do fortalecimento da participação das mulheres na política. Uma referência política, Clara deixa um legado imenso. Aos parentes, amigos e companheiros de uma vida de militância, meus sentimentos e solidariedade”, afirmou o ministro Paulo Teixeira.
“Um século dedicado à liberdade, à democracia e ao Brasil. Clara Charf, companheira de Marighella, dedicou praticamente toda a sua vida ao sonho de um país mais justo. Presença ativa em campanhas, eventos e mobilizações políticas, contribuiu enormemente para a nossa construção política. Sua voz e sua coragem são eternos.
 Clara Charf presente!”, escreveu o ator Bruno Gagliasso.
“Com profunda tristeza, recebi a notícia do falecimento de Clara Charf, histórica militante das lutas democráticas e sociais do nosso país. Fundadora do PT e companheira de Carlos Marighella, dedicou um século à luta por um Brasil mais justo e solidário. Deixa um legado de resistência, coragem e esperança que continuará inspirando gerações. Clara Charf, presente!”, compartilhou o deputado Paulo Pimenta (PT).
Quem era Clara Charf
Clara Charf, a mais velha de três irmãos, nasceu em Maceió, em Alagoas, depois que os pais, judeus russos, fugiram da Europa. O pai, Gdal, trabalhou como mascate. Mesmo assim, Clara conseguiu aprender inglês e piano. A família mudou-se para Recife onde a comunidade judaica já havia se estabelecido.
Diante das dificuldades da família, a filha mais velha foi para o Rio de Janeiro tentar emprego com 20 anos de idade. Filiou-se ao Partido Comunista em 1946. No ano seguinte, casou-se com o também ativista Carlos Marighella. Após o golpe militar, o guerrilheiro, nos últimos anos de vida, participou da luta armada, o que fez Clara temer muito pelo destino. Ela também era perseguida por agentes da ditadura e foi presa.
Depois do assassinato de Marighella, Clara foi para o exílio em Cuba naqueles tempos em que o Brasil vivia sob a legislação opressiva do ato institucional número 5 (AI-5), que revogava todas as liberdades individuais. A ativista passou 10 anos exilada e a família ficou seis anos sem notícias.
Desde que voltou ao Brasil, Clara se engajou na luta política. “Ela passou a ficar muito próxima da luta das mulheres, das liberdades, dos direitos e por uma condição social sempre mais justa e igualitária. Justiça é uma palavra importante para Clara”, afirmou em entrevista recente a Agência Brasil a documentarista Isa Grinspum Ferraz, sobrinha de Marighella e autora do premiado documentário Marighella (2012). Clara também se candidatou a deputada estadual em 1982, pelo Partido dos Trabalhadores. Mas não se elegeu.
Em 2005, Clara Charf passou a coordenar no Brasil o movimento Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, que nasceu na Suíça. A ideia foi promover a indicação coletiva de mil mulheres para o Prêmio Nobel da Paz de 2005. No Brasil, seria preciso escolher 52 mulheres ativistas.
* Com informações da Agência Brasil