As Forças Armadas Brasileiras merecem respeito, mas estão sendo desrespeitadas em duas frentes: no gabinete do ministro da Defesa e nos morros do Rio de Janeiro.

O Exército, a Marinha e a Aeronáutica não estão constituídos para ficar subindo e descendo favela atrás de traficantes, nem é essa a função que a Constituição lhes atribui. Se as polícias do Rio de Janeiro não dão conta do serviço de combater o narcotráfico (se é que de fato lhes interessa esse combate), o problema é delas e do governador Luiz Fernando Pezão (tivesse o ex-governador Sérgio Cabral roubado menos, por exemplo, e a ex-cidade maravilhosa não estaria assim escangalhada).

Autoridades civis rapinaram o quanto puderam, e agora vão aos quartéis pedir socorro no cuidado com a segurança
pública, como se os militares fossem simples marionetes.

O comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas-Bôas (tem meio século de corporação e dezesseis anos a mais de idade), alertou reiteradas vezes sobre os riscos de desgate às três Armas, se colocadas na função de polícia (o general Leônidas Pires Gonçalves valia-se de uma frase exemplar: “caserna não tem algemas”). O signatário desse artigo por duas vezes também já alertara para os perigos. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, preferiu nada escutar. Deu no que deu: traficantes
da favela Kelson’s metralharam o Centro de Instrução da Marinha, no Rio de Janeiro.

Isso é muito grave, mas aconteceu e é óbvio que aconteceria. Quer o governo admita ou não, trata-se de atentado terrorista, e pouco importa se as balas não tinham cor ideológica mas cheiravam a maconha e a cocaína dos traficantes. Em claras palavras: a nossa Marinha foi atacada por bandidos e isso fere a dignidade de todos nós.

O que fez o ministro Jungmann (que põe tropas atrás de marginais nos quatro cantos do Brasil) sobre esse atentado? Absolutamente nada. Repensou e mudou a sua estratégia? Não. O que fez o governador Pezão? Igualmente nada.

Ocorreu um atentado terrorista no Rio de Janeiro, no quartel da Marinha onde estudam centenas de recrutas,
e o silêncio das autoridades civis é total. Usar militar como bucha de canhão é indigno e antipatriótico.

Se é para expor militares às armas da bandidagem, o governador do Rio de Janeiro, o secretário de segurança pública e os comandantes das polícias deveriam ir para casa. Em seus lugares assumiriam altos oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Hoje os traficantes atiram a esmo para dentro de quartéis. Amanhã eles estarão colocando inocentes soldados sob a mira de seus fuzis. E derrubando-os.

Se é para fazer dos militares bucha de canhão, são também os militares que devem governar o Rio de Janeiro