A sombra de um homem aparece discretamente atrás de dois turistas na entrada do Museu Judaico de Bruxelas. Com o braço esticado, aponta o seu revólver para a nuca de suas futuras vítimas e aperta o gatilho.

Uma primeira bala para Emanuel Riva e uma segunda para sua esposa, Miriam, que caem. Estes israelenses de cerca de 50 anos não viram o atirador chegar.

O casal representa as duas primeiras das quatro vítimas do massacre do Museu Judaico de Bruxelas, em 24 de maio de 2014, pelo qual Mehdi Nemmouche comparece, a partir desta quinta-feira (10), em um tribunal de Bruxelas como autor.

Segundo as imagens do circuito de segurança do museu, o agressor, de boné, jaqueta azul e calça jeans, continua a sua violenta tarefa com um passo decidido até a recepção do museu.

Um jovem funcionário, alertado pelos disparos, cruza o seu caminho. Uma bala atinge a testa de Alexandre Strens, de 26 anos, provocando o seu falecimento duas semanas depois.

Na recepção, uma voluntária francesa, Dominique Sabrier, se esconde angustiada atrás de sua mesa. O homem dispara em sua direção, mas não tem sucesso.

Então, pega um fuzil kalashnikov de uma de suas duas bolsas pretas e tenta entrar na pequena sala, cuja porta está trancada.

Atira contra a porta, mas consegue abri-la com um chute, avançando com um fuzil na mão até a mulher de 60 anos. Três disparos, dois deles na cabeça. A voluntária cai debaixo de sua mesa.

O homem guarda a arma e sai do museu sem dizer nada, tranquilamente, segundo as testemunhas, antes de se misturar entre a multidão naquela tarde de sábado.

As quatro mortes, que chocaram o mundo, teriam levado 82 segundos e foram necessários 13 disparos – cinco com a pistola e oito com o fuzil -, segundo os investigadores.

Nos dias posteriores, a Polícia belga pede a colaboração do povo e divulga imagens do assassino, captadas no circuito de segurança.

– ‘A sangue e fogo’ –

Seis dias depois, em 30 de maio de 2014, um ônibus da Eurolines que cobre a rota Amsterdã-Bruxelas-Marselha chega ao meio-dia à estação de Saint-Charles. Três funcionários alfandegários realizam um controle sem aviso prévio.

A bordo, cerca de 15 passageiros, entre eles um francês usando terno e gravata, barbeado. O homem de 29 anos é Mehdi Nemmouche, que assegura vir da capital belga.

Em um assento vazio não muito longe do rapaz, um agente aponta para uma bolsa Decathlon e outra preta abandonadas. Nenhum passageiro reivindica a sua propriedade.

Ao encontrar a bolsa, especialmente pesada, distingue “um carregador encaixado em uma massa metálica envolvida por um pano”, provavelmente um fuzil de assalto, pensa.

Os três agentes iniciam uma inspeção dos passageiros, até chegar a Mehdi Nemmouche, o terceiro a ser examinado. Quando se apresenta a eles com os braços levantados, eles percebem uma protuberância no bolso de seu paletó: uma pistola carregada.

Algemado sem resistir, finalmente confessa ser o dono das duas mochilas abandonadas, assim como do revólver e do fuzil. A investigação mostrará que se tratavam das armas usadas no ataque.

Em sua bagagem também encontram 51 munições de revólver e 261 de kalashnikov, bem como vários jornais – Metro, Le Soir Magazine e Paris Match – que falam do massacre no Museu Judaico.

Os agentes alfandegários também apreendem um laptop que contém, entre outros, vários vídeos em que Mehdi Nemmouche não aparece, mas que uma voz reivindica as mortes.

“Minha jaqueta continha uma câmera (…) mas, infelizmente e para meu pesar, essa câmera não funcionou naquele dia”, diz essa voz em um dos arquivos.

Antes de prometer: “Este é apenas o começo de uma série de ataques contra a cidade de Bruxelas. Estamos firmemente determinados a submeter esta cidade a sangue e fogo”.