Ao menos duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas, nesta quarta-feira (20), em um atentado com carro-bomba contra uma delegacia no sudoeste da Colômbia, em meio às negociações de paz entre o governo e grupos armados.

Segundo a polícia, após o atentado houve confrontos na zona rural de Timba, no departamento de Cauca, onde atuam dissidentes das Farc que se afastaram do acordo de paz de 2016 e que iniciarão novos diálogos com o governo em 8 de outubro.

“Por volta de 07h15 da manhã (9h15 em Brasília) um carro-bomba explodiu a aproximadamente 50 metros de uma delegacia, e infelizmente, duas pessoas perderam a vida e duas ficaram feridas”, disse o general Tito Castellanos, vice-diretor da polícia, em uma declaração enviada à imprensa.

“Neste momento, as unidades policiais estão sendo intimidadas em um campo de futebol próximo”, disse.

Johanna Muñoz, de 40 anos, preparava o café da manhã da filha antes de levá-la para a escola quando sentiu o impacto da explosão, contou a mulher à AFP.

“Algumas coisas caíram em cima de mim e, do jeito que consegui, fui tirando para que não nos atingissem. Depois (…), as levantei com as mãos para que a minha filha saísse e eu também pudesse sair”, relatou.

A família de Muñoz tinha a um lado da casa um depósito de peças de automóveis que, assim como sua residência, ficou destruído. Ao sair, ela viu duas pessoas no chão. “Acho que estavam passando na hora. Uma era uma professora, acho que faleceu”. Ela não conseguiu identificar a segunda vítima.

Sem comentar diretamente o atentado desta quarta-feira, o presidente Gustavo Petro assegurou que “as ações” das dissidências do Estado-Maior Central (EMC) na região são uma represália pelas operações militares contra os cultivos de drogas.

“As ações do EMC em Cauca são sua reposta a nossa ofensiva no vale de Micay onde se produz 70% da folha de coca de Cauca. Nosso objetivo se mantém”, assegurou o presidente de esquerda na rede social X, antigo Twitter.

– “É absurdo” –

Nas redes sociais e em veículos de comunicação locais circulavam vídeos em que se podiam ver um prédio em chamas e, muito perto, dois corpos estendidos no chão. A AFP verificou por geolocalização que o material foi filmado em Timba.

Três casas vizinhas à delegacia foram destruídas, constatou um repórter da AFP, que até o meio-dia não viu presença das autoridades nos arredores. Tampouco foram registrados confrontos entre a força pública e grupos armados.

Perto da delegacia há um colégio e um hospital que também foram danificados, informou à Blu Radio o governador de Cauca, Elías Larrahondo.

“Ordenei (…) uma presença ainda maior, militar e policial, no Cauca”, informou o presidente Petro pelo X.

A polícia informou que seus agentes “estão sãos e salvos” após o atentado, o que leva a presumir que as vítimas sejam civis.

Até o momento nenhum grupo reivindicou o ataque, nem as autoridades determinaram quem são os responsáveis.

Petro aspira desativar meio século de conflito armado por meio do diálogo com todas as organizações ilegais.

“É absurdo que grupos armados falem em fazer a paz e suas ações sejam demonstrações de guerra”, afirmou o Defensor do Povo, Carlos Camargo, em reação ao ataque.

De acordo com a Defensoria, os grupos armados “só fazem debochar do desejo” de paz dos colombianos.

– Paz sob ataque –

O atentado ocorre um dia após o governo e o maior grupo dissidente das Farc, o EMC, chegarem a um acordo sobre o início de negociações de paz e um cessar-fogo em outubro.

“Até agora, sabemos que neste setor (Timba) atua a (dissidência) Jaime Martínez”, que faz parte do EMC, afirmou Larrahondo.

Cercados por plantações de folhas de coca, base da fabricação de cocaína, os representantes do presidente de esquerda Petro e os rebeldes do EMC se reuniram na terça em Suárez, em Cauca.

Segundo um comunicado conjunto, a mesa de negociações será instalada em Tibú (leste), na fronteira com a Venezuela. Nesse mesmo dia entrará em vigor uma trégua de 10 meses.

Desde novembro, mantém negociações em Cuba, México e Venezuela com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional(ELN), a mais antiga da América. Também se aproxima do Clã do Golfo, a maior organização traficante do país.

Rebeldes, traficantes, paramilitares e agentes estatais se enfrentam há mais de meio século em uma guerra que deixa mais de nove milhões de vítimas, em sua maioria deslocados e assassinados.

Colômbia é o maior produtor de cocaína do mundo, combustível da violência.

vd/lv/tm/jc/yr/mvv

X