16/07/2024 - 16:10
O atentado contra Donald Trump deve ter fortes reflexos na corrida eleitoral, mas não apenas em benefício dele. Se por um lado o candidato do Partido Republicano se favorece explorando o ataque para angariar votos do eleitorado indeciso, o ‘fato novo’ ganha o noticiário e tira de Biden a pressão pela sua desistência da candidatura à reeleição dos EUA. É o que explica o mestre em Relações Internacionais, cientista político e especialista em política internacional Uriã Fancelli, ouvido pelo site IstoÉ.
O ex-presidente Trump foi alvo de um atentado durante um comício na Pensilvânia, no sábado, 13, enquanto falava para centenas de apoiadores. Um dos tiros, efetuado por Thomas Matthew Crooks, atingiu de raspão a orelha direita do republicano. O atirador estava em cima de um telhado portando um fuzil AR-150.
Antes do atentado, gafes cometidas pelo presidente Biden e a imposição — por parte de alguns veículos de mídia, políticos e financiadores do Partido Democrata — para que ele renunciasse a candidatura para as eleições presidenciais em novembro eram o ponto central do período pré-eleitoral. Agora as imagens do candidato republicano cercado de agentes do Serviço Secreto dos EUA, o rosto dele sujo de sangue e, depois de dois dias, a aparição na Convenção Nacional Republicana com um curativo na orelha direita minimizam os ‘escorregões’ de Biden.
“Acredito que ele [Biden] ainda sofra uma certa pressão por um lado. Mas, por outro, Biden pode acabar ganhando tempo com esse atentado, porque, até o último sábado, o foco era a possível desistência dele. Agora só se fala desse ataque contra o Trump, ninguém mais fala de uma suposta substituição e a convenção do Partido Democrata está se aproximando (marcada para agosto), que pode oficializar o nome de Biden. Depois disso, não tem como o partido mudar de candidato”, explicou Uriã Fancelli.
Exploração do ataque
Do lado da ala Republicana, Trump deve explorar ao máximo o ataque e aproveitar o ‘racha’ do Partido Democrata para apelar ao eleitorado mais moderado e indeciso. Conforme explicou Uriã, a vantagem é de Trump, mas ainda é cedo para dar a eleição como decidida.
“A vitimização é uma retórica que sempre esteve presente na vida política de Donald Trump. Ele dizia que existiam forças que queriam silenciá-lo, de que ele era vítima de um complô. No entanto, nesse momento, acredito que essa narrativa deve ser adotada pelos apoiadores de Trump e seu candidato a vice-presidente”, afirmou Uriã, em referência a fala do senador J.D Vance que chegou a vincular a campanha de Biden à tentativa de assassinato.
“As estratégias das duas campanhas devem mudar e precisamos observar como a população norte-americana vai reagir a isso. Ainda faltam cerca de quatro meses para as eleições e também ocorrerá a convenção do Partido Democrata para oficializar o nome de Biden. Então não há como dizer que o pleito já está decidido sendo que ainda não houve a confirmação da candidatura de Joe Biden”, finalizou.