Binyamin Netanyahu, 69 anos, é o mais longevo primeiro-ministro de Israel, depois de 13 anos no poder, superando até mesmo o lendário David Ben Gurion, fundador do estado israelita em 1948, mas agora a sua manutenção no cargo está ameaçada. Para garantir a continuidade no posto nas eleições marcadas para o próximo dia 17 — a segunda este ano —, Netanyahu está prometendo a tacada mais ousada e perigosa de sua carreira: se vencer o pleito, ele pretende anexar o vale do rio Jordão, na Cisjordânia, a Israel. Oficialmente, essa região ainda pertence à Palestina, mas é ocupada por colônias e assentamentos israelenses desde a guerra de 1967. Caso confirme a expansão de seu território, Israel voltaria a despertar a ira dos palestinos e de outros países árabes, como o Líbano, interrompendo o processo de paz e os esforços do próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de resolver definitivamente o conflito israelense-palestino. Netanyahu acredita que, ao prometer anexar a Cisjordânia, contará com o apoio dos partidos mais à direita, espaço ocupado atualmente por Benny Gantz, ex-chefe do Exército e líder do Azul e Branco, maior força da centro-direita do País hoje.

“Queremos um estado judaico, mas não governado pela halachá (a lei religiosa judaica)” Avigdor Lieberman, candidato a primeiro-ministro de Israel

Netanyahu levou a direita e os religiosos ortodoxos à loucura, ao declarar a anexação da Cisjordânia às fronteiras de Israel, em um anúncio feito por meio de rede de televisão, com o tom inflamado da campanha eleitoral. “Hoje, declaro minha intenção, após a formação de um novo governo, de aplicar a soberania israelense ao vale do Rio Jordão e à região ao norte do Mar Morto”, disse Bibi, como é conhecido o primeiro-ministro. Se internamente essa promessa pode ajudar Netanyahu a renovar o mandato de primeiro-ministro, por outro lado ele provocou a irritação das lideranças palestinas. “O plano de Netanyahu queimaria todas as chances de paz entre palestinos e israelenses”, disse Saeb Erekat, negociador da Palestina. “Netanyahu é o primeiro destruidor do processo de paz”, acrescentou o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina, Mohammad Shtayyeh.

“Declaro minha intenção, após a formação de um novo governo, de aplicar a soberania israelense ao vale do Rio Jordão (Cisjordânia)” Binyamin Netanyahu, , primeiro-ministro de Israel

Políticos da oposição afirmam que ao trazer à tona o processo de anexação da Cisjordânia, Bibi desvia o foco da campanha eleitoral deste dia 17, que explorava os problemas judiciais que envolvem o primeiro-ministro. O procurador-geral de Israel havia anunciado, em fevereiro, a intenção de indiciar Bibi por corrupção, fraude e quebra de confiança. As denúncias de corrupção já havia afetado em muito o desempenho de Bibi nas eleições realizada no dia 9 de abril. O Likud, partido de Netanyahu, venceu a eleição, mas ganhou apenas 35 das 120 cadeiras, obrigando o primeiro-ministro a fazer uma aliança com partidos de direita e religiosos, incluindo os partidos ultra-ortodoxos, que propõem o respeito estrito às regras do judaísmo. “Eu serei o primeiro-ministro de todos”, prometeu Bibi no dia 29 de abril, quando ele formou o novo governo.

Com uma maioria tênue, Bibi, no entanto, passou a enfrentar fortes resistências ao seu governo. Muitas das críticas partem, inclusive, de Avigdor Lieberman, seu ex-ministro da Defesa e ex-chanceler. Os dois eram amigos íntimos. Em 1997, Netanyahu chegou a fazer uma declaração de admiração a Lieberman: “Ele é um amigo excepcional, um ser humano incrível, muito correto”, disse Bibi. Nessa altura, os dois estavam no Likud e eram inseparáveis. Mas, anos depois, Lieberman rompeu com Bibi e fundou o ultranacionalista Israel Nossa Casa, que hoje é oposição radical a Netanyahu. Lieberman também disputa a vaga de primeiro-ministro nesta eleição.

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A oposição dos “russos”

As pesquisas eleitorais mostram que Lieberman pode alcançar 10 cadeiras das 120 do parlamento em Jerusalém e pode ser o fiel da balança na composição do novo primeiro-ministro que vier a ser eleito agora. Ele é linha dura. Nasceu em Chisnau, na Moldávia (ex-URSS) e emigrou para Israel em 1978, aos 20 anos, levado pelo pai Lev Lieberman, ex-integrante do Exército russo. Antes de mudar-se para Israel, Lieberman chamava-se Evet Lvovich, que depois passou a adotar o nome de Avigdor. Na campanha eleitoral, humoristas o mostram como um agente da KGB. Como seu discurso ultranacionalista, acabou conquistando o eleitorado de judeus imigrantes da antiga União Soviética, que representam 18% da população de Israel.

Depois que Bibi se aproximou dos judeus hetorodoxos, Lieberman passou a bater na tecla de que religião e política não podem se misturar. “Queremos um estado judaico, mas não governado pela halachá (a lei religiosa judaica)”, disse. Apesar de atacar Bibi, Lieberman apóia os assentamentos israelenses na Cisjordânia. Afinal, ele reside em uma dessas colônias de Israel, mas ainda não se comprometeu com a anexação da Cisjordânia como deseja Bibi. Na verdade, esse projeto pode levar Bibi ao seu quinto mandato de primeiro-ministro ou enterrar de vez sua carreira.


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