O argelino Abdellatif Baka chamou a atenção do mundo no domingo 11 quando conquistou a medalha de ouro no 1.500 m da classe T13, com o tempo de 3m48s29. Com essa marca, o esportista, que tem baixa visão, se tornou o novo recordista mundial da distância. Mas o que surpreendeu é que o índice lhe garantiria o primeiro lugar na Olimpíada Rio-2016, deixando o vencedor americano Matthew Centrowitz e seus 3m50s com a medalha de prata. Outro que se destacou na semana passada foi o velocista brasileiro Petrúcio Ferreira. Ele bateu o recorde mundial dos 100m da categoria T47, para amputados, com o tempo de 10s57, apenas 21 centésimos a mais do que o índice obtido por Victor Hugo dos Santos, o melhor brasileiro nos 100 metros do Rio. Esses resultados mostram que os paratletas estão alcançando níveis extraordinários e podem chegar a marcas ainda melhores. Nesta edição da Paralimpíada, a 15ª, em que o Brasil alcançou a melhor colocação na história, e diante desses exemplos, cabe a pergunta: os atletas paralímpicos teriam condições de competir na Olimpíada? “O que nós vemos hoje é uma evolução muito grande de esportistas com determinados tipos de deficiências”, afirma Turíbio Leite Barros Neto, fisiologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Isso porque estão sendo criadas oportunidades para que eles treinem e se dediquem ao esporte.”

A evolução dos paralímpicos está diretamente
relacionada ao aumento de patrocínio nas modalidades

Não é preciso voltar muito no tempo para analisar a evolução. Há apenas 20 anos, os paratletas não tinham tantas oportunidades. Diferentemente dos esportistas sem deficiência, eles não recebiam patrocínio e, portanto, tinham dificuldade para se manter apenas com os recursos do esporte. Muitos treinavam apenas nas horas vagas, ficando atrás de quem podia se dedicar em tempo integral. Mas isso vem mudando. Nos últimos três Jogos Paralímpicos, o potencial deles tem chamado a atenção de patrocinadores. Com o dinheiro das empresas, eles conseguem se dedicar unicamente aos treinos e, assim, evoluem tecnicamente.

Os fenômenos da Paralimpíada
Eles obtiveram marcas que poderiam levá-los a competir com atletas sem deficiências

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O argelino Abdellatif Baka (à esquerda) foi campeão dos 1.500m da classe T13 (para atletas com baixa visão) com o tempo de 3m48s29. A marca poderia ter dado a ele o ouro na Olimpíada do Rio. Na ocasião, o vencedor foi o americano Matthew Centrowitz, com 3m50s

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CAMPEÃO O velocista brasileiro Petrúcio Ferreira bateu o recorde mundial dos 100m na categoria T47

O velocista brasileiro Petrúcio Ferreira (à direita)bateu o recorde mundial dos 100m da categoria T47 (para amputados) com o tempo de 10s57, apenas 21 centésimos a mais do que a marca obtida por Victor Hugo dos Santos, o melhor brasileiro nos 100 metros dos Jogos do Rio
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O brasileiro Ricardo Costa de Oliveira (à direita) conquistou o ouro no salto em distância na categoria T11 (para atletas totalmente cegos) com a marca de 6 metros e 52 centímetros. Entre os olímpicos, também o brasileiro Higor Alves saltou 7 metros e 59 centímetros na Rio-2016

Os investimentos nas tecnologias para dar suporte ao treino e desenvolvimento dos paratletas também têm aumentado muito. Hoje, por exemplo, é possível fazer, na esteira, a avaliação fisiológica de um esportista que usa cadeiras de rodas e medir o pulso de alguém que tenha amputado o braço. Mas o que mais chama a atenção são as próteses usadas por eles. Há muita polêmica em torno do uso dessas ferramentas, porque alguns especialistas dizem que elas melhoram a condição do atleta, lhe conferindo uma vantagem. Para o médico do esporte Renato Romani, vinculado ao hospital 9 de Julho, em São Paulo, as próteses exigem esforço do esportista e não há motivos para proibir a utilização delas. “Eles precisam treinar muito para fazer com que a prótese corra como uma perna humana”, diz. “Do ponto de vista da fisiologia, o corpo se adapta e é preciso muito trabalho para que ele expanda essa capacidade para uma máquina.”

A polêmica das próteses

A vantagem pode ocorrer caso um competidor use uma prótese mais evoluída do que a dos rivais. Como foi o caso dos trajes feitos com poliuretano usados pelos nadadores olímpicos, que tinham menos atrito com a água, aumentando a velocidade. Em 2010, eles foram proibidos. Porém, as próteses podem ajudar, no futuro, a fazer com que paratletas possam competir, de igual para igual, com esportistas que não possuem deficiência de igual pra igual. “A pessoa com deficiência passaria, então, a ser treinada nos mesmos moldes dos atletas olímpicos”, diz Romani. Com tantas tecnologias, o reforço do patrocínio e a força de vontade desses valentes esportistas, não há limites para a evolução. “Estamos curiosos para saber até onde eles podem chegar”, diz Leite de Barros.

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fotos: Jason Cairnduff/Reuters; Matthew Stockman/Getty Images


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