Na gelada manhã da quinta-feira 11, no tradicional “território livre” da histórica Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, pertencente à USP, dois manifestos e diversos discursos, escritos de forma apartidária e nascidos da sociedade civil, enviaram um único recado a um único destinatário.

O recado: a democracia e o resultado das eleições de outubro no País terão de ser constitucionalmente respeitados e acatados.

Quanto ao destinatário, ele possui cargo, nome, sobrenome e uma perigosa intenção: presidente da República do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, arquiteto de um golpe caso não consiga a reeleição.

Um dos manifestos foi organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e teve o endosso da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e de centenas de entidades empresarias e centrais sindicais, em uma fenomenal união do capital com o trabalho. O outro documento foi organizado pela própria faculdade e reuniu, como signatários, juristas, juízas e juízes, promotoras e promotores, desembargadoras e desembargadores, intelectuais, artistas, escritoras e escritores e demais brasileiras e brasileiros de diferentes profissões.

O primeiro foi lido pelo jurista e presidente da Comissão Arns de Direitos Humanos, José Carlos Dias, uma das principais vozes que se levantaram contra a ditadura militar e que agora se abre, novamente, contra a gestão Bolsonaro, por ele qualificada como “governo delinquente”. Por volta das onze horas, enquanto a voz de José Carlos Dias se fazia ouvir no salão nobre da faculdade, o céu do centro de São Paulo, antes nublado, abriu-se em azul e sol. Sol sobre a faculdade. Os democratas, ali presentes, o aplaudiram. Foi ele também, o Sol, um recado ao golpista do Planalto.

O segundo manifesto, no pátio, ganhou leitura conjunta. Dela, participaram: professoras e advogadas Maria Paula Dallari, Ana Elisa Liberatore Bechara, Eunice de Jesus Prudente; e o advogado Flávio Flores da Cunha Bierrenbach – ao lado de José Carlos Dias, foi ele, também, uma das peças essenciais na luta pela redemocratização do País durante os anos de chumbo.

Como já se disse, um azul de inverno e um sol de inverno se interessaram pelo evento – e o abençoaram. Como já se disse, tudo serviu de recado ao destinatário Bolsonaro, sem que seu nome sequer tenha sido citado nos manifestos. Brasileiras e brasileiros estão de mãos dadas, em vigília cívica, como consta de uma das cartas, para defender a democracia, o Estado de Direito, a Justiça e o nosso sistema eleitoral.