Há quem diga que as coisas precisam antes piorar para que comecem a melhorar. Se é verdade, o Brasil chegou, definitivamente, ao fundo do poço institucional na última semana. Judiciário e Legislativo estão em pé de guerra e o Executivo se mostra incapaz de apontar saídas para a maior recessão da história do País, que já fez com que a economia brasileira encolhesse quase 10% desde o seu início.

Tudo isso teve origem numa decisão temerária da elite brasileira que foi apoiar a ruptura do pacto democrático. Como disse nessa semana o ex-ministro Joaquim Barbosa, “a sociedade ainda não acordou para a fragilidade institucional que se criou quando se mexeu num pilar fundamental do nosso sistema de governo, que é a Presidência.”

Quebradas as regras, imaginava-se que seria possível, como num passe de mágica, resgatar a confiança e fazer com que a economia brasileira voltasse a crescer. O resultado está aí: uma economia arruinada e um País sem qualquer credibilidade, interna e externa, com manifestações sendo duramente reprimidas, como ocorreu em Brasília na semana passada, e uma incompreensão internacional sobre o que fez com que o Brasil, antes respeitado e admirado, se transformasse novamente num País quebrado e sem autoestima.

Se a pinguela cair, será possível promover  um pacto democrático ou o caminho será a destruição total?

O arranjo político atual se mostrou tão frágil que já se discute abertamente como encontrar uma saída. Haverá eleições indiretas em 2017? Apontado como eventual candidato neste cenário, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso passou a defender eleições diretas “se a pinguela cair”. O motivo: um eventual governo eleito por um Congresso em que mais de 200 parlamentares estão sendo investigados não teria nenhuma legitimidade para tirar o Brasil do buraco em que se encontra.

Essa mudança de postura do PSDB abre espaço para um eventual acordo nacional, no momento em que toda a classe política brasileira parece estar ameaçada pela chamada “delação do fim do mundo”, feita pela Odebrecht. Depois do pedido de desculpas e da decisão de pagar R$ 6,7 bilhões, a maior empreiteira brasileira deu sinal verde para que 77 executivos contem tudo o que sabem sobre esquemas de corrupção e caixa dois. Esquemas, diga-se de passagem, ecumênicos, ou seja, que atingirão todos os partidos e políticos do governo e da oposição.

A grande questão, agora, é: será possível promover um pacto democrático ou o caminho será a destruição total em que todos, inclusive a democracia, morrerão no final?