Ataques de Tarcísio ao STF vão além de acenos e foram premeditados

Aliados de Jair Bolsonaro pressionavam um discurso mais radical do governador paulista há anos, que sempre desviava do assunto e dizia que “tinha prazo” para começar seus ataques

Tarcísio
O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Ao subir em um trio elétrico estacionado na Avenida Paulista voltado para 42 mil pessoas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sabia exatamente o tom do seu discurso e as palavras que usaria. Os ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que surpreenderam até aliados mais próximos, já estavam planejados dias antes do evento que marcou a nova estratégia política do governador paulista.

Normalmente polido e alinhado ao Centrão, Tarcísio era tão cauteloso com suas falas que passou a ser cobrado por bolsonaristas mais enérgicos. Sua resposta foi sempre desviar do assunto e prometer um posicionamento mais forte em um momendo adequado.

Aliados do governador afirmaram que dias antes Tarcísio de Freitas já começara a dar indícios de mudança de discurso e dizia que usaria um discurso mais intenso em um momento oportuno. De acordo com pessoas próximas, o governador já estava parcialmente distante de membros do STF, principalmente de Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, ministros em que tinha boa interlocução.

O recado chegou no dia 7 de setembro de 2025. Em meio à avenida símbolo da cidade de São Paulo, Tarcísio vociferou aos quatro ventos suas críticas ao inquérito da trama golpista e chamou Moraes de “tirano”.

De quebra, o chefe do Palácio dos Bandeirantes aproveitou para tonificar o seu apoio ao PL da Anistia, que livra Bolsonaro da condenação de 27 anos de prisão por participar da trama golpista. O governador tem assumido o protagonismo na articulação pelo avanço do texto e deve ir à Brasília na próxima semana para se reunir com líderes do Centrão e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pressionar a votação da urgência do projeto.

O texto entregue pela cúpula bolsonarista prevê uma anistia “total e irrestrita” para Bolsonaro, mas, nos bastidores, há a expectativa de mudanças no teor do projeto. O fato é que a relatoria da proposta ficará sob o domínio do Centrão.