Ataques a ônibus em SP: o que se sabe até agora

Fernando Frazão/Agência Brasil
Ônibus em São Paulo Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Os recentes ataques a ônibus na cidade de São Paulo têm causado receio em grande parte da população. Especialmente durante as últimas semanas, diversos veículos foram vandalizados por pedras e tiveram os vidros quebrados, o que coloca a integridade física dos passageiros em perigo.

A causa ou autores dos ataques ainda não foi apurada, mas a Polícia Militar organiza operações para flagrar a ação dos vândalos. Após algumas especulações iniciais, os agentes consideram que os ataques podem estar sendo mobilizados via internet e que adolescentes são os prováveis responsáveis.

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O que aconteceu

Desde o início de junho, estão sendo registrados casos de vandalismo contra ônibus na capital paulista. No período da noite, criminosos atiram pedras contra os vidros dos veículos — em especial na parte traseira e no lado esquerdo –, que costumam quebrar com o impacto. Em um dos episódios, uma mulher teve o nariz quebrado.

Segundo os investigadores, 180 ataques foram registrados contra o transporte coletivo no período. As empresas de ônibus, por outro lado, contabilizaram 235 casos. A divergência entre os números se deve ao fato de que nem todos os casos de vandalismo possuem registro de boletim de ocorrência, de acordo com o delegado Fernando Santiago, titular da 4.ª Delegacia de Crimes contra o Patrimônio.

A situação foi denunciada pelo sindicato SPUrbanuss, após a entidade levantar o número de casos e enviar ofícios diretamente às Secretarias de Estado da Segurança Pública e de Segurança Urbana da Prefeitura de São Paulo, solicitando “providências para coibir os ataques que estão ocorrendo aos ônibus urbanos, desde meados de junho passado”.

A prefeitura disse colaborar com as apurações e colocou à disposição das autoridades estaduais as imagens da rede municipal de câmeras — o programa Smart Sampa.

Horários e locais mais afetados

Os ataques costumam ocorrer de noite, quando o ambiente já está escuro, especialmente a partir das 22h. A maioria é localizada na Zona Sul, sendo os principais locais:

  • Avenida Cupecê – 20 ataques
  • Rodovia Raposo Tavares – 17 ataques
  • Avenida Sapopemba – 8 ataques
  • Avenida Vereador João de Luca – 8 ataques

Resposta policial

A Polícia Militar anunciou na última quinta-feira, 3, uma operação especial de policiamento de ônibus, com cerca de 3.600 viaturas e 7.800 agentes. A previsão é de que as ações se estendam até 31 de julho.

Policiais e viaturas ficarão nos pontos estratégicos, como corredores, terminais de ônibus e garagens, como indicado pela SPUrbanuss. Além disso, vão monitorar e mapear os locais de maiores incidência das depredações.

Haverá apoio de militares da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) e outras unidades especializadas da PM. A polícia também prepara ações veladas, com agentes infiltrados nos transportes coletivos, para tentar conseguir prisões em flagrante.

Até o momento, dois suspeitos foram presos em flagrante, em São Bernardo do Campo e Diadema. Os investigadores afirmam, no entanto, que o perfil de atuação foi diferente dos outros ataques e parece ser uma situação isolada.

Facções criminosas são descartadas como culpadas

Após a primeira fase das investigações policiais, a participação do crime organizado, em especial do PCC (Primeiro Comando da Capital) na autoria dos ataques foi descartada.

“Descartamos, por ora, uma ação de facções criminosas. Isso em razão da ausência de um propósito. Trabalhamos com outras hipóteses que já foram ventiladas, como os desafios de internet”, afirmou o delegado Ronaldo Sayeg, diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

Sayeg também descarta que o vandalismo seja uma retaliação ao rompimento de contrato da Prefeitura de São Paulo com as empresas Transwolff e Upbus, que tinham suspeitas de ligações com o PCC.

Adolescentes e desafios virtuais em nova frente de investigação

Com o avanço das operações, a Polícia Civil de São Paulo identificou a participação de adolescentes em alguns dos atos de depredação e vandalismo contra ônibus. A hipótese foi enfatizada pelo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB).

O perfil dos suspeitos, aliado ao padrão dos ataques, leva a polícia a trabalhar, neste momento, com a teoria de que os ataques são organizados por grupos pela internet. A suspeita é de que os atos de violência façam parte de desafios e jogos virtuais, com foco em jovens.

“Nós identificamos a presença de pessoas de feição jovial em alguns ataques”, disse o diretor do Deic. No boletim de ocorrência feito na segunda-feira, 30, pela empresa de ônibus Piracicabana, os motoristas relataram à polícia que os autores dos ataques eram, na maioria, adolescentes.