Por Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) – Ataques a indígenas do Brasil e invasões de suas terras por garimpeiros e madeireiros ilegais, principalmente na Amazônia, aumentaram dramaticamente em 2021, agravando uma situação já “aterrorizante”, disse o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, nesta quarta-feira.

Em seu relatório anual sobre violência contra indígenas, o Cimi detalhou uma dramática intensificação dos abusos no terceiro ano do governo do presidente Jair Bolsonaro, que enfraqueceu órgãos de fiscalização e de proteção aos indígenas.

Bolsonaro incentiva a exploração econômica das reservas indígenas e defende uma nova legislação para permitir a mineração em terras protegidas, ressaltou o Cimi.

“Além do aumento quantitativo de casos e terras afetadas pela ação ilegal de garimpeiros, madeireiros, caçadores, pescadores e grileiros, entre outros, os invasores intensificaram sua presença e a truculência de suas ações nos territórios indígenas”, informou o relatório.

Com mais de 20 mil garimpeiros ilegais na reserva Yanomami, na fronteira com a Venezuela, invasores iniciaram ataques armados contra comunidades indígenas, causando um clima de terror e mortes, inclusive de crianças, disse o Cimi.

Na comunidade Munduruku, no Pará, onde a crescente mineração de ouro tem destruído florestas e poluído rios, invasores têm atacado organizações comunitárias e tentaram impedir seus líderes de viajar para manifestações em Brasília, de acordo com relatório.

O Palácio do Planalto não respondeu a um pedido de comentário.

Foram 305 invasões em terras indígenas em 2021, ante 263 casos no ano anterior, quase três vezes mais do que os casos registrados pelo Cimi em 2018, quando Bolsonaro foi eleito presidente.

Foram 176 assassinatos de indígenas, seis a menos do que em 2020, que teve o maior número de homicídios já registrado.

Os suicídios de indígenas subiram para 148 no ano passado, o maior já registrado.

O Cimi também denunciou casos de assassinatos realizados com extrema crueldade e brutalidade, como os de Raíssa Cabreira Guarani Kaiowá, de 11 anos, e Daiane Griá Sales, de 14, do povo Kaingang. Ambas as meninas indígenas foram estupradas e mortas.

A Funai, agência governamental para assuntos indígenas, não quis comentar, dizendo que não viu o relatório do Cimi.

Criada em 1967 para proteger os 300 povos indígenas do Brasil –dos quais metade vive na floresta amazônica–, a Funai disse em comunicado que atua junto a órgãos ambientais e policiais para combater atividades ilegais em terras indígenas.

Para comandar a Funai, Bolsonaro nomeou um policial conhecido por ajudar agricultores em conflitos de terra com indígenas.

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