(Reuters) – Um ataque suicida do Estado Islâmico atingiu os portões do aeroporto de Cabul com uma forte explosão nesta quinta-feira, matando dezenas de civis e 12 soldados dos Estados Unidos, e também provocando um caos no transporte aéreo de milhares de afegãos desesperados para fugir do país.

O saldo de mortes norte-americanas, anunciado pelo general Frank McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA, torna este o ataque mais letal contra as forças norte-americanas no Afeganistão em uma década e um dos mais graves de toda a guerra de 20 anos.

Autoridades de saúde do Afeganistão disseram que 60 civis morreram, mas não ficou claro se essa era a contagem completa. Vídeos publicados por jornalistas afegãos mostraram dezenas de corpos e vítimas feridas ao redor de um canal perto do aeroporto. Houve pelo menos duas explosões na região, segundo testemunhas.

O Estado Islâmico, que emergiu no Afeganistão como inimigo tanto do Ocidente quando do Taliban, reivindicou a autoria do ataque em um comunicado no qual diz que um dos suicidas tentara atingir “tradutores e colaboradores do Exército norte-americano”. Autoridades dos EUA também culparam o grupo.

As mortes norte-americanas foram as primeiras em ação no Afeganistão em 18 meses, o que deve ser citado por críticos que acusam o presidente Joe Biden de abandonar de maneira imprudente um status quo estável e duramente conquistado ao decidir por uma retirada abrupta.

Uma vala perto das cercas do aeroporto estava cheia de cadáveres encharcados de sangue, alguns sendo amontados nas margens do canal, enquanto civis choravam e procuravam seus entes queridos.

“Por um momento, achei que meus tímpanos haviam explodido e perdi a audição. Eu vi corpos e partes de corpos voando pelo ar como um tornado soprando sacos de plástico. Eu vi corpos, partes de corpos de idosos e homens feridos, mulheres e crianças espalhados pelo local da explosão”, afirmou um afegão que tentava chegar ao aeroporto.

“Corpos e feridos estavam na rua e no canal de esgoto. Aquela água saindo do canal havia se transformado em sangue”.

O general dos EUA McKenize afirmou que os Estados Unidos seguiriam em frente com as retiradas de pessoas, citando que ainda havia cerca de 1.000 cidadãos norte-americanos no Afeganistão.

No entanto, vários países ocidentais disseram que os voos em massa com civis afegãos estava terminando, provavelmente deixando dezenas de milhares de afegãos que trabalharam para o Ocidente durante as duas décadas de guerra sem uma saída.

A violência do Estado Islâmico é um desafio para o Taliban, que prometeu aos afegãos que levaria paz ao país que conquistou rapidamente. Um porta-voz do Taliban descreveu o ataque como o trabalho de “círculos do mal” que seriam suprimidos uma vez que as tropas estrangeiras fossem embora.

Países ocidentais temem que o Taliban, que outrora deu abrigo a Al Qaeda de Osama Bin Laden, permitirá que o Afeganistão se transforme em um porto seguro a militantes. O Taliban diz que não deixará o país ser usado por terroristas.

ESTADO ISLÂMICO

Combatentes alegando fidelidade ao Estado Islâmico começaram a surgir na parte leste do Afeganistão no final de 2014. Eles estabeleceram uma reputação de extrema brutalidade enquanto lutavam contra o Taliban por razões ideológicas e para controlar o contrabando local e as rotas de narcóticos, de acordo com os serviços de inteligência ocidentais.

Desde o dia anterior à invasão do Taliban em Cabul, os Estados Unidos e seus aliados realizaram uma das maiores retiradas aéreas da história, transportando cerca de 95.700 pessoas, incluindo 13.400 na quarta-feira, informou a Casa Branca nesta quinta-feira.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que pelo menos 4.500 cidadãos norte-americanos e suas famílias foram retirados do Afeganistão desde meados de agosto.

O Taliban encorajou os afegãos a ficar, embora afirme que aqueles com permissão para sair ainda poderão fazê-lo assim que as tropas estrangeiras partirem e os voos comerciais forem retomados.

O regime do Taliban, de 1996 a 2001, foi marcado por execuções públicas e pela restrição de liberdades básicas. As mulheres eram proibidas de ir à escola ou ao trabalho. O grupo foi derrubado há duas décadas por forças lideradas pelos EUA por receber os militantes da Al-Qaeda, responsáveis pelos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

O Taliban disse que respeitará os direitos humanos de acordo com a lei islâmica e não permitirá que terroristas operem dentro do país.

(Reportagem das redações da Reuters)

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