Israel emite ordem de evacuação para moradores de grande parte de Teerã. Netanyahu diz que morte do aiatolá Khamenei "acabaria com o conflito", enquanto Irã ameaça instalações nucleares "secretas" em solo israelense.Um ataque israelense nesta segunda-feira (16/07) tirou do ar por alguns instantes a emissora de rádio e televisão estatal do Irã. Explosões ecoaram por Teerã após baterias de mísseis iranianos matarem ao menos oito pessoas em Israel no quarto dia do conflito armado entre os dois países.
Israel lançou na última sexta-feira uma série de ataques surpresa contra alvos em todo o Irã, sob a justificativa de impedir que o regime desenvolva armas atômicas – o que Teerã nega.
O embate é um dos mais violentos na rivalidade de décadas entre Israel e Irã e acendeu o alerta sobre a possibilidade de uma guerra mais ampla. A República Islâmica rejeita negociar um cessar-fogo enquanto estiver sob ataque, e Israel promete manter a pressão militar.
Na noite desta segunda-feira (horário local), o Irã anunciou que revidaria os ataques e disse ao Conselho de Segurança da ONU agir para se defender. Nos bastidores, o país teria apelado a lideranças do Catar, da Arábia Saudita e do Omã para que intercedam junto ao presidente americano Donald Trump e ajudem a negociar um cessar-fogo com Israel, segundo a agência de notícias Reuters.
O ministro iraniano do Exterior, Abbas Araghchi, chegou a dizer publicamente que o Irã interromperia seus ataques se Israel fizesse o mesmo. Mas, após um dia de intensos bombardeios israelenses que estenderam os alvos para além das instalações militares, atingindo refinarias de petróleo e prédios governamentais, a Guarda Revolucionária Iraniana prometeu novas rodadas de ataques "mais contundentes, severas, precisas e destrutivas do que as anteriores".
Os ataques israelenses já mataram pelo menos 224 pessoas, incluindo comandantes militares de alto escalão, cientistas nucleares e civis, segundo autoridades iranianas. Do lado israelense, o saldo é de 24 mortos e mais de 500 feridos.
Israel emite ordem de evacuação para Teerã
Nesta segunda, Israel emitiu uma ordem de evacuação para moradores de grande parte de Teerã, alertando para um iminente bombardeio a uma "infraestrutura militar" na região.
O alerta foi dado em uma postagem nas redes sociais em tom semelhante às que são regularmente direcionadas à população da Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o grupo islamista Hamas.
A postagem é vista como um sinal da escalada da campanha israelense contra o Irã, que começou com ataques às defesas aéreas, instalações nucleares e à cadeia de comando militar, mas que parece estar virando uma guerra de atrito voltada contra a indústria iraniana de petróleo e gás.
Ataque a emissora de rádio e TV do Irã
Em Teerã, a transmissão ao vivo da Rádio e Televisão da República Islâmica do Irã (Irib) foi abruptamente interrompida quando um ataque israelense atingiu o edifício da emissora.
Uma apresentadora, que lançava fortes críticas a Israel, foi forçada a fugir no meio da transmissão quando uma forte explosão abalou o prédio, destruindo os monitores do cenário no estúdio e lançando detritos e poeira do teto.
Israel já havia emitido um alerta de evacuação para a parte da cidade onde está localizada a sede da Irib, com o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, afirmando antes do ataque que o "megafone de propaganda e incitação do Irã está prestes a desaparecer".
Mais tarde, ele alertou que Israel "atacaria o ditador iraniano em todos os lugares".
A Irib retomou sua transmissão logo após o ataque, com um alto funcionário da emissora afirmando que "a voz da revolução islâmica […] não será silenciada com uma operação militar". Explosões também puderam ser ouvidas em outras partes da capital.
Após dias de ataques contínuos, os moradores de Teerã começaram a deixar a cidade. Postagens nas redes sociais mostravam enormes engarrafamentos na estrada principal em direção ao norte do Irã.
Irã ameaça "instalações nucleares secretas" de Israel
Também nesta segunda, o Irã ameaçou Israel com retaliações maciças em caso de ataque a suas instalações nucleares.
O alvo seriam supostas "instalações nucleares secretas", segundo um comunicado do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã transmitido pela rádio estatal.
De acordo com a nota, as informações sobre a localização de alvos israelenses teriam sido obtidas por meio de uma operação de inteligência.
O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, aconselhou Israel a não atacar instalações nucleares iranianas, dizendo à emissora israelense i24news que esses locais são "extremamente bem protegidos" e exigiriam "força muito, muito devastadora" para serem danificados.
Ele acrescentou que um ataque poderia reforçar a determinação do Irã em buscar armas nucleares ou deixar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, mencionando conversas que teve com autoridades iranianas.
O Ministério do Exterior iraniano anunciou que o Parlamento está preparando um projeto de lei nesse sentido, embora tenha frisado que o país é contra o desenvolvimento de armas nucleares.
Ratificado pelo Irã em 1970, o tratado garante aos signatários o direito de desenvolver energia nuclear para fins civis, desde que eles abram mão de armas nucleares e cooperem com a AIEA, agência da ONU para controle nuclear.
Desconfiança em torno do programa nuclear do Irã
O sigilo em torno das atividades nucleares anteriores do Irã está no centro das negociações na AIEA. Alemanha, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos vêm se esforçando para aumentar a pressão sobre o regime com uma resolução perante o conselho da AIEA.
Os governos ocidentais temem que a liderança iraniana possa estar tentando construir armas nucleares – algo que Teerã nega reiteradamente.
Os EUA e o Irã negociam um acordo para limitar o programa nuclear iraniano. Contudo, após as conversas terem sido frustradas pelos ataques israelense, o presidente americano, Donald Trump, instou o Irã nesta segunda-feira a retornar à mesa de negociações.
Trump ameaçou o Irã com o emprego de força militar caso as partes não cheguem a um acordo. Ele insistiu que Washington "não tem nada a ver" com a campanha de seu aliado Israel, mas alertou que qualquer ataque iraniano aos interesses americanos acionaria "toda a força" do poderio militar de seu país.
O embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, disse que um ataque de míssil danificou levemente um prédio usado pela embaixada americana em Tel Aviv, enquanto o Departamento de Estado dos EUA alertou os cidadãos nesta segunda-feira a não viajarem a Israel devido a preocupações com a segurança.
Israel diz ter destruído 1/3 dos lançadores iranianos
Em Israel, ataques iranianos atingiram as cidades de Tel Aviv, Bnei Brak, Petah Tikva e Haifa. O gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, informou que oito pessoas morreram nesta segunda-feira, elevando o total desde sexta-feira para 24.
O saldo inclui três pessoas que morreram quando um míssil atingiu uma refinaria de petróleo em Haifa no domingo, informou uma autoridade israelense.
O Exército de Israel afirmou nesta segunda-feira que havia destruído 120 lançadores de mísseis iranianos, o que, segundo os militares israelenses, representaria um terço do total do Irã.
Netanyahu: matar Khamenei "acabaria com o conflito"
O premiê Benjamin Netanyahu declarou em uma entrevista à emissora de TV americana ABC News nesta segunda-feira que matar o líder supremo do Irã, Ali Khamenei encerraria o conflito com o Irã.
Questionado sobre relatos de que Trump havia rejeitado um plano israelense para assassinar Khamenei, devido à possibilidade de intensificação do conflito, Netanyahu disse que isso "não aumentaria o conflito, e sim acabaria com o conflito".
O premiê se recusou a dar uma resposta clara ao ser perguntado se seu país estaria de fato tentando assassinar o chefe de Estado iraniano, dizendo simplesmente que Israel está "fazendo o que tem que fazer".
Netanyahu enfatizou que é do interesse dos EUA apoiar Israel porque "hoje é Tel Aviv, amanhã é Nova York", referindo-se à ameaça representada pelo programa nuclear do Irã.
"[Eles] cantam 'morte aos EUA!'. Portanto, estamos fazendo algo a serviço da humanidade, e essa é uma batalha do bem contra o mal. Os Estados Unidos apoiam, devem apoiar e apoiam o bem. É isso que o presidente Trump está fazendo, e eu aprecio profundamente seu apoio", disse Netanyahu, acusando Teerã de manter "negociações falsas" com Washington sobre seu programa nuclear.
rc/ra (AFP, DPA, EFE, AP)