O sucesso do ataque hacker que derrubou o site do Ministério da Saúde e o aplicativo do ConecteSUS, que fornece o Certificado Nacional de Vacinação Covid-19, na última sexta-feira, mostra que inutilizar os sistemas do governo é fácil e rápido e não traz qualquer consequência judicial nem problema policial. Um bando de alucinados anônimos, como os do grupo Lapsus$ Group, que assumiu a ação e pediu um resgate para devolver os dados, pode deflagrar, com grande facilidade, uma crise de uma hora para outra, apagando informações oficiais estratégicas, interrompendo serviços básicos e saindo impunes. Todos os dados sobre a vacinação no País simplesmente evaporaram e até agora a situação não voltou ao normal.

Nesta segunda-feira, 13, os sistemas continuavam fora do ar. E o mais impressionante de tudo é que o ataque atendeu aos interesses do presidente Jair Bolsonaro, que rejeita o uso do passaporte vacinal para estrangeiros que chegarem ao País e de regras rigorosas de controle para impedir a propagação da Covid-19. Parece realmente um apagão programado, uma autossabotagem. Tudo faz pensar que os tais hackers atendem aos interesses dos grupos antivacina, alinhados com as posturas negacionistas do governo.

Desde as últimas eleições municipais, quando fanáticos bolsonaristas fizeram vários ataques aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) persiste essa sensação de vulnerabilidade digital. A impressão é que as forças do obscurantismo estão sempre a postos e prontas para causar alguma confusão nas redes governamentais. E isso sempre acontece de maneira alinhada com as ideias do presidente, que vê seus desejos se materializarem. No caso do TSE, há o esforço permanente dos militantes de extrema-direita para desacreditar as urnas eletrônicas. No Ministério da Saúde o alvo são os comprovantes de vacinação. O objetivo desses ataques é desacreditar as instituições e gerar insegurança na sociedade. Como os sistemas de proteção têm demonstrado fragilidade, qualquer hacker vagabundo se sente capaz de invadir os arquivos do governo para roubar informação ou simplesmente para interromper o funcionamento dos serviços. Trata-se, claramente, de uma ação terrorista que atende aos objetivos de grupos radicais dedicados a fomentar a desordem.

Não é normal que governos sejam afetados com tanta facilidade por ataques de hackers. Imagina-se que os sistemas de segurança sejam robustos e capazes de resistir às ofensivas dos baderneiros digitais. Mas não é isso que se vê no caso brasileiro. O colapso causado nos dados de vacinação no País ainda não foi resolvido. E hoje, em uma nova ação destrutiva, os sistemas internos do Ministério da Saúde, como a intranet e o acesso ao e-mail corporativo e até mesmo à rede de telefonia foram cortados. Os técnicos da pasta trabalham para acabar com a vulnerabilidade que está permitindo o acesso aos dados internos, o que precisa ser feito com urgência. Mas o outro problema que precisa ser resolvido é identificar a origem do mal. Quem teria interesse em sumir com os dados da vacinação neste momento? Parece obsceno, mas a sabotagem ao Conecte SUS tem a marca do bolsonarismo.