Ataque em Munique teve motivação islamista, diz Procuradoria

Ataque em Munique teve motivação islamista, diz Procuradoria

"CarroMotorista invadiu passeata no centro da cidade, deixando ao menos 36 feridos. Suspeito é afegão e tinha autorização para estar na Alemanha. Ele admitiu ter tido a intenção de atropelar manifestantes.O Ministério Público de Munique, na Alemanha, afirmou nesta sexta-feira (14/02) que o atropelamento que deixou 36 feridos na cidade no dia anterior teve motivação islamista. A polícia trata o caso como um atentado. O motorista avançou com o carro sobre uma passeata e foi preso no local.

A procuradora responsável pela investigação, Gabriele Tilmann, disse ainda que o motorista, um afegão de 24 anos, admitiu ter tido a intenção de atropelar aos manifestantes. Em suas redes sociais, ele publicava mensagens de cunho religioso. Além disso, após o atropelamento, ele disse "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe).

Tilmann, porém, afirmou que não há indícios de que ele pertencesse a um grupo extremista islâmico. Até o momento, as investigações indicam que ele agiu sozinho. Também não indícios de que o autor do ataque tenha alguma doença psicológica.

O ataque

Um automóvel atropelou um grupo de pessoas no centro de Munique na manhã desta quinta-feira, deixando vários feridos. O incidente ocorreu no cruzamento entre as ruas Dachauer e Seidlstrasse, no centro da cidade, próximo à estação central de Munique. O carro avançou por volta das 10h30 (horário local) sobre uma passeata do sindicato trabalhista Verdi, num dia em que Munique vive algumas greves. Cerca de 1.500 manifestantes participavam do ato.

O carro seguiu a passeata e, em determinado momento, furou o bloqueio dos automóveis policiais e avançou sobre os manifestantes a mais de 50 km/h. Os agentes de segurança atiraram contra o veículo e prenderam o suspeito.

O Corpo de Bombeiros afirmou que o atropelamento deixou ao menos 36 feridos. Entre eles, há uma criança de 2 anos que está internada em estado grave.

Autoridades descartam que o ataque tenha relação com a Conferência de Segurança de Munique, que começa nesta sexta-feira na cidade e deve contar com a presença de vários políticos de alto escalão do mundo todo.

Após o atropelamento, o governador da Baviera, Markus Söder, falou em "possível atentado". O motorista do automóvel seria um afegão de 24 anos que solicitou asilo na Alemanha e estava com status regular no país.

Mais tarde, Söder afirmou à emissora pública alemã ZDF que os "antecedentes extremistas [do suspeito] não são tão facilmente reconhecíveis à primeira vista".

Segundo a revista alemã Spiegel, o motorista nasceu em Cabul em 2001. Antes do atropelamento, ele teria publicado mensagens islamistas nas redes sociais. Uma porta-voz do Ministério Público de Munique confirmou à revista haver "indícios de uma motivação extremista".

Suspeito tinha permissão de residência

O suspeito chegou na Alemanha ao final de 2016, como menor de idade e desacompanhado, e entrou com um pedido de asilo semanas depois.

O pedido foi negado em setembro de 2017. Ele apelou contra a rejeição, sem sucesso, e foi legalmente obrigado a deixar o país no segundo semestre de 2020.

Em abril de 2021, porém, o jovem recebeu de Munique um aviso de "estadia tolerada", um status temporário para estrangeiros que são legalmente obrigados a deixar o país, mas são autorizados a permanecer por um período de tempo em determinadas circunstâncias, como questões de saúde.

Este status permaneceu até outubro de 2021, quando o suspeito recebeu uma permissão de residência e autorização de trabalho. O homem frequentou a escola e concluiu treinamento vocacional.

"Ele então trabalhou como detetive particular para duas empresas de segurança", afirmou o secretário do Interior da Baviera, Joachim Herrmann na noite desta quinta-feira. As autoridades de Munique não haviam tomado uma decisão sobre a extensão de sua autorização de residência desde que foi emitida em 2021, o que significa que ela permaneceu válida.

"Isso significa que a residência do agressor era absolutamente legal até os dias de hoje, até onde se sabe", disse Herrmann à agência de notícias alemã DPA. Versões anteriores divulgadas por autoridades à imprensa diziam que o agressor permanecia na Alemanha sob seu status anterior, de "estadia tolerada".

Herrmann também corrigiu informações passadas anteriormente por ele, que indicavam uma suposta participação do suspeito em roubos e posse de entorpecentes.

Segundo o secretário, o afegão havia participado de diversos julgamentos de furtos em lojas devido ao seu trabalho. "Ele não era um suspeito, mas uma testemunha", afirmou, chamando as informações anteriores de "mal-entendido".

"Tem que ser punido e deixar o país", diz Scholz

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, prometeu uma resposta dura ao ataque, e afirmou que o suspeito "não pode contar com qualquer indulgência".

"Ele tem que ser punido e tem que deixar o país", disse Scholz, horas antes de Herrmann confirmar que o suspeito não estava sujeito à deportação.

Scholz também expressou seus sentimentos pelos feridos e suas famílias. "Deve ficar muito claro que o Judiciário tomará medidas duras contra esse perpetrador com todos os meios que tiver à sua disposição", afirmou.

"Qualquer pessoa que cometer crimes na Alemanha não será apenas severamente punida e enviada para a prisão, mas também deve esperar que não poderá continuar sua estadia na Alemanha", completou.

Mais tarde, em entrevista à ZDF, Scholz reforçou que qualquer pessoa que não seja cidadão alemão e cometa este tipo de crime será deportada.

"Isso também acontecerá com esse criminoso. Porque nós
certamente o veremos ser condenado pelos tribunais e, mesmo antes de sair da prisão, ele também será devolvido ao seu país de origem."

A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, prometeu "severidade máxima" para o suspeito e afirmou que o governo já começou a deportar pessoas para o Afeganistão, apesar das tensas relações com o regime talibã.

Incidente vira disputa eleitoral

O atropelamento repercutiu imediatamente nas campanhas políticas que antecendem as eleições gerais de 23 de fevereiro na Alemanha, nas quais a política de migração e possíveis atentados tomaram o centro da discussão.

O líder do partido conservador CDU, Friedrich Merz, favorito para se tornar o próximo chanceler, pediu medidas de segurança mais fortes após o suposto atentado.

"Todos em nosso país devem se sentir seguros novamente. Algo tem que mudar na Alemanha", escreveu no X.

"A segurança das pessoas na Alemanha será nossa prioridade máxima. Nós faremos cumprir rigorosamente a lei e a ordem", acrescentou.

Também antes de o status de residência do suspeito ser anunciado como regular, a candidata a chanceler federal da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, insistiu que o afegão nunca teria entrado na Alemanha se seu partido estivesse no poder.

"É sempre o mesmo padrão: um solicitante de asilo vem para a Alemanha, seu pedido de asilo é rejeitado e ele não é deportado", disse ela durante uma conversa ao vivo em estúdio com eleitores na ZDF. "Sob o comando da AfD, ele não teria vindo para cá em primeiro lugar."

rc/cn/ra/gq (DPA, AFP)