O escritor francês Renaud Camus, teórico da “Grande Substituição” evocada pelo autor do massacre em duas mesquitas na Nova Zelândia, denunciou nesta sexta-feira os ataques, chamando-os de “terroristas, inaceitáveis, criminosos, desastrosos e estúpidos”.

O homem que cometeu a carnificina em duas mesquitas da cidade de Christchurch, matando 49 fiéis e ferindo dezenas de outros, “não pode valer-se dos meus escritos, porque o que eu sustento é exatamente o oposto”, afirmou à AFP o autor, em 2011, do livro “Le grand remplacement” (“A grande substituição”, em tradução livre).

“Se (o suposto atacante) escreveu um panfleto intitulado ‘A grande substituição’, trata-se de um caso de plágio, de uso abuso de um sintagma que não pertence a ele e que ele obviamente não controla”, considerou Renaud Camus, contactado por telefone.

A teoria da grande substituição é uma teoria da conspiração da extrema direita sobre o desaparecimento dos “povos europeus”, “substituídos”, segundo os defensores desta teoria, por populações não europeias imigrantes.

Renaud Camus não é “o inventor” desta tese, mas popularizou-a em seus livros.

O ensaísta de 72 anos condenou uma “ação literalmente contrária a tudo o que (ele) sempre apoiou”. “Eu realmente não poderia deixar de condenar isso”, disse ele.

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“Eu não sou absolutamente violento”, afirmou o escritor, condenado em 2015 por provocar ódio ou violência contra os muçulmanos.

“No centro do meu pensamento, existe esse conceito de inocência, ou seja, de não-dano, de não-violência”, disse ele.

“O que mais me preocupa no que eu chamo de ‘grande substituição’ é precisamente o quanto é favorável à violência e todos os níveis de violência, seja na vida cotidiana, ou, claro, em ataques terroristas”, acrescentou.

Questionado sobre as motivações do principal suspeito do ataque, que disse em um manifesto de 74 páginas intitulado “A grande substituição” ter sido inspirado por suas viagens na Europa e particularmente na França, Renaud Camus argumenta que este jovem australiano foi inspirado por “atos perpetrados em solo nacional nos últimos quatro ou cinco anos”. “O que mais se parece ao seu crime são os ataques terroristas que foram cometidos na França”, disse ele.

“Não vejo por que ele seria mais inspirado por mim do que por ações que se assemelham diretamente àquela que cometeu”, defendeu-se o escritor.


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