Longe de ser um ato de reparação, o perdão concedido ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a 8 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, faz parte da estratégia de reeleição de presidente Jair Bolsonaro – que tem entre suas bandeiras de campanha colocar em descrédito a Corte. O assunto reverberou em todas as mídias. Correligionários de Bolsonaro festejaram, a ponto de Silveira ser homenageado na Câmara pelo deputado federal Coronel Tadeu, que o presenteou com o decreto presidencial do indulto emoldurado.

Bolsonaro transformou o evento em palanque. Sugeriu que as Forças Armadas tivessem um sistema próprio de contagem de votos, o que causou reação quase que imediata dos líderes da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que defenderam a lisura do pleito.

Depois que tomou gosto pelo poder e decidiu tentar permanecer no cargo por mais quatro anos, Bolsonaro passou a suspeitar do mesmo processo eleitoral que o elegeu. Em 2019, o Palácio do Planalto encaminhou proposta (PEC-135) para instituir o voto impresso, que foi arquivada pelo Congresso.

Do mesmo modo que montou um sistema de comunicação paralelo à mídia oficial, Bolsonaro gostaria de organizar o próprio processo eleitoral, se assim fosse possível. Como não é, duvidar da lisura do processo eleitoral torna-se uma saída, principalmente quando se está no segundo lugar das pesquisas – com 26% das intenções de voto, segundo a Datafolha – com um distância considerável do principal oponente, o ex-presidente Lula (43%). Mas o tiro pode sair pela culatra. O rechaço uníssono de Lira e Pacheco deixam o presidente mais isolado em suas convicções.