A percepção de que a falta de unanimidade do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, na decisão da semana passada estava mais relacionada a um debate sobre o cumprimento do forward guidance do que a respeito da necessidade de se manter uma política monetária restritiva acalmou o mercado de juros futuros, o que provocou um recuo em quase toda a curva das taxas de Depósito Interfinanceiro (DI).

A exceção foi a ponta curta, onde as taxas tiveram um pequeno aumento, refletindo o entendimento de que, na prática, o colegiado como um todo está preocupado em ancorar as expectativas de inflação e mais reticente em estender demais o ciclo de redução da Selic.

As conclusões do mercado vieram após a divulgação da ata da reunião do Copom, divulgada hoje cedo, que explicitou a fundamentação dos quatro diretores do Banco Central que preferiam um corte de 0,50 ponto porcentual da Selic, maior que o de 0,25 ponto anunciado pelo colegiado, porém em linha com o direcionamento dado pelo próprio Copom em março.

“O mercado estava achando que o Banco Central poderia assumir uma postura mais liberal quanto à inflação. Entendemos que não. Não há discordância quanto à taxa Selic de forma geral, e não tem por parte dos diretores uma certa postura suave em relação ao controle da inflação”, disse Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.

Segundo ele, após a ata, o mercado entendeu que o Copom vê necessidade de uma Selic mais elevada do que se previa no começo do ano para garantir que as expectativas de inflação se aproximem mais da meta de inflação anual a 3%.

Felipe Sichel, economista-chefe da Porto Asset, aponta que o Copom está claramente mais perto do fim do ciclo de cortes na Selic, e que daqui para frente os próximos passos do Copom ficarão cada vez mais condicionados à evolução do cenário econômico, que tem piorado.

“Na hora em que o Copom opta por não fazer um guidance, ele naturalmente coloca muito mais relevância no cenário daqui até 45 dias. A gente vai acompanhar como esses cinco elementos vão evoluir nas próximas semanas para materializar o nosso cenário de mais um corte e aí vai ser o mesmo exercício dali em diante”, acrescentou.

O economista ressaltou que, além de reagir à ata, o mercado também recebeu influência da queda nas taxas projetadas pelos Treasuries, em particular após a divulgação de dados sobre o índice de preços ao produtor dos Estados Unidos.

Ainda que o indicador tenha vindo acima do previsto, alguns componentes que influenciam diretamente a inflação medida pelos gastos com consumo – PCE, o dado de inflação mais acompanhado pelo Federal Reserve – vieram dentro ou abaixo do esperado, o que levou a um ajuste nas expectativas do mercado, segundo Sichel.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2025 fechou a 10,330%, de 10,305% no ajuste de ontem. A taxa para janeiro de 2026 ficou em 10,535%, de 10,567% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 fechou a 10,870%, de 10,965%, enquanto a do contrato para janeiro de 2029 recuou a 11,365%, de 11,509%.