Na Itália e nos EUA vive-se, no presente, um extremo conservadorismo do passado. O governo da primeira-ministra, Giorgia Meloni, que politicamente atravessa a fronteira das posições conservadoras e pisa o chão ideológico da extrema direita, proibiu que sejam fornecidos documentos de identificação a crianças se os casais responsáveis por elas se constituírem de indivíduos do mesmo sexo. Ou seja: filhos adotados por casais gays não mais terão certidão de nascimento. Crianças nascidas pelo método de reprodução assistida, quando pais ou mães forem de igual gênero, igualmente não poderão ter registro no qual conste o nome do casal – a fertilização assistida, aliás, é consentida apenas a heterossexuais. Nos EUA, desde que a Suprema Corte retirou das mulheres a proteção constitucional ao aborto, a história caminha a passos largos rumo ao obscurantismo. No Texas, por exemplo, permite-se ao médico realizar o procedimento se a gestante correr risco de morte. Ocorre, porém, que tal médico, ainda assim, passará por um rigoroso processo em retrógrados tribunais — e, se condenado, a pena será de 99 anos de prisão. A situação é resumida pela presidente do Centro de Justiça Reprodutiva, Nancy Northup: “agora, é perigoso estar grávida no Texas”.

COMO ANTIGAMENTE Nancy (ao microfone) e Amanda: “agora é perigoso ficar grávida no Texas” (Crédito:SUZANNE CORDEIRO / AFP)

LIVROS
O “Bruxo” contra a escravatura

O poeta Carlos Drummond de Andrade disse, certa vez, que o conto Pai contra mãe, de Machado de Assis, “vale por três manifestos abolicionistas”. Melhor definição, impossível. E impossível, também, melhor notícia no campo literário: o conto, embora pequeno, acaba de ser lançado como um livro em si, com textos analíticos (editora Cobogó). Leitura imprescindível, sobretudo a quem teima em dizer que o “Bruxo do Cosme Velho” (expressão criada por Drummond) não se posicionava contra a escravatura. Como todos os textos machadianos, Pai contra mãe puxa para o avesso a alma humana: um caçador de escravizados, cuja mulher está grávida, captura uma preta também grávida, que aborta. Críticos brasileiros e internacionais consideram que a frase que fecha o conto é uma das mais perturbadoras da literatura mundial. Diz o perseguidor: “Nem toda criança vinga”.

SÍMBOLOS Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade: um impecável Brasil na escrita e no projeto de democracia racial (Crédito:Divulgação)

CRIME
PF age contra o PCC e impede ataques ao senador Sergio Moro e ao promotor Lincoln Gakiya

ALVO UM O ex-ministro da Justiça e atual senador, Sergio Moro: implacável na luta antiviolência (Crédito:Gabriela Biló)

O Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais facções criminosas do Brasil, vinha articulando havia 45 dias ataques contra autoridades de diversas áreas. Dentre elas, pessoas vinculadas ao poder Judiciário e Legislativo. A Polícia Federal descobriu o plano criminoso e, na quarta-feira 22, por meio da Operação Sequaz, prendeu nove integrantes do grupo e salvou vidas. A partir desse momento ficou-se sabendo que o senador Sergio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya estavam entre os principais alvos do PCC. Ambos têm postura implacável no combate ao crime. O promotor paulista há vinte anos foca seu trabalho na facção. Sergio Moro, quando era ministro da Justiça, atuou em parceria com Gakiya na transferência dos chefes do PCC para presídios federais de segurança máxima. Moro ainda impediu que os detentos recebessem visita intima. Alguns bolsonaristas, declarados e enrustidos, em uma atitude irresponsável porque esvazia a gravidade do caso, tentaram, em má fé, jogar a culpa em Lula. O presidente declarara, que quando preso, só estaria bem “no dia em que foder o Moro”. Lula, na verdade, não tem nada a ver com os atentados planejados pelo PCC. A operação da PF já estava marcada desde o dia 16 de março, muito antes da declaração do presidente.

ALVO DOIS O promotor de Justiça Lincoln Gakiya: há vinte anos o foco de seu trabalho é o PCC (Crédito:Gustavo Lima / Câmara dos Deputados)