A vitória do Boca Juniors, fora de casa, por 1 a 0 sobre o boliviano Always Ready embolou ainda mais o Grupo E da Copa Libertadores. No entanto, o que continua a repercutir sobre a partida é o pênalti polêmico marcado para a equipe argentina e um vídeo no qual a polícia boliviana encontra camisas dos xeneizes no vestiário da equipe de arbitragem.

Enquanto jogadores e dirigentes da equipe boliviana reclamaram de ambas as situações, um membro do conselho do Boca Juniors minimizou o caso.

“Sempre gosto de falar de coisas sérias e importantes, e vou dizer a verdade, para que todos saibam. Em cada jogo temos a cortesia e a delicadeza de dar um presente para o corpo de arbitragem, em todos os jogos em que estamos, há testemunhas. Com grandeza ou dignidade, nunca fomos pedir a camisa porque eles estavam errados e não vamos pedir agora. A situação me faz rir – explicou Jorge Bermúdez.

Em entrevista à rede Bolivision Juan Carlos Lugones, assessor de arbitragem da Conmebol, tentou explicar o imbróglio, potencializado pela penalidade que definiu a vitória do Boca na Bolívia.

“Estávamos justamente no momento em que os árbitros tiveram que sair do vestiário e ir para o túnel. É no momento que os policiais que vigiam o vestiário dos árbitros me chamam e me dizem que na porta externa, a que dá para a garagem do estádio, eles estavam me convocando. Saio com pressa porque os árbitros estavam praticamente saindo do vestiário e eram duas pessoas do time do Boca Juniors. Um conhecido como o ex-jogador Riquelme que atualmente me parece ser um dirigente”, iniciou Lugones ao Bolivisión.

Juan Carlos descreveu que o ex-jogador se aproximou dele e disse se poderia levar alguns presentes para a equipe de arbitragem da partida.

“Eu o informei sobre os regulamentos e disse que não seria possível. É proibido e ainda mais antes de uma partida. Portanto, isso é negado.”, afirmou o representante.

Mesmo assim, o ex-árbitro afirma que a dupla do Boca insistiu: “Não se importavam se era agora ou mais tarde [a entrega dos presentes]. Isso é comum. Você sabe que é costume as seleções argentinas e nacionais sempre presentearem os árbitros, os médicos e todo o pessoal que participa do futebol em cada partida”.

Lugones disse que a o jogo estava próximo de começar e decidiu resolver a situação rapidamente.

“Os árbitros já estavam a caminho do túnel e eu tive que acompanhá-los. Então, sob pressão deles para me dar os presentes e entregar quando eu quiser, saí na porta do vestiário, cruzando a porta atrás dela, fechei o vestiário e saí correndo para acompanhá-los [os árbitros], me despedir e ir até o quinto andar para realizar meu trabalho. Portanto, e isso é muito importante para falar e esclarecer: os árbitros da partida em nenhum momento ouviram, viram, não sabiam, não sabiam desse fato. Enquanto eu conversava com o líder mencionado na porta externa que leva à garagem, eles saíram do vestiário e foram para o campo de jogo”, acrescentou.

Pênalti polêmico

O caso dos “presentes” ganhou ainda mais repercussão, pois houve a marcação de uma penalidade no mínimo discutível para o Boca Juniors, no primeiro tempo. Salvio converteu o pênalti e o gol deu a vitória ao time argentino por 1 a 0. Para deixar fora de questão qualquer suspeita de uma possível relação entre o lance e os objetos oferecidos, Juan deixou claro:

“Eles [os árbitros] não sabiam de nada até que voltaram no final do primeiro tempo. Foi aí que eles descobriram [os presentes] porque voltaram para o vestiário novamente.”

Código de ética da Conmebol

De acordo com o artigo 22 do Código de Ética da Conmebol, as pessoas regidas pelo documento só poderão oferecer ou aceitar presentes e outros benefícios em caso de:

A) Ter um valor simbólico ou irrelevante.

B) Excluir qualquer influência na execução ou omissão de um ato.

C) Não infringir suas obrigações.

D) Não auferem benefícios económicos indevidos ou de outra natureza.

E) Não causar conflito de interesse.

Qualquer presente ou benefício que não atenda a todos esses critérios é proibido.”

O código ainda destaca: “Não estão incluídos no escopo de aplicação deste artigo, objetos promocionais de marcas, como ingressos protocolares para partidas organizadas pela Conmebol, canetas contramarcadas com marcas corporativas, cadernos, calendários, bonés, camisetas e , em geral, todo material publicitário que tenha valor simbólico ou irrelevante”.

Dessa forma, não houve conflito entre os objetos oferecidos pelo Boca Juniors e o regulamento. No entanto, o artigo deixa uma lacuna para a interpretação e, por isso, cabe à Conmebol analisar se o caso é passível ou não de punição.