Pergunte o leitor amigo, a leitora amiga, para algum conhecido ou parente pobre, mas pobre mesmo, daqueles de “marré deci” (os mais jovens que procurem no Google o significado da expressão), se ele sabe o que é deflação, crescimento do PIB, geração de emprego, queda do preço do álcool e da gasolina e/ou quaisquer outros números provisoriamente positivos da economia, momentaneamente festejados pelo desgoverno Bolsonaro, turbinados pelas medidas eleitoreiras cujos efeitos certamente passarão – e os custos chegarão.

A resposta, meus caros, com a mais absoluta certeza, será não! Quem conhece a bela – e eu diria histórica, já que antiga e ainda sucesso – canção Romaria, do não menos histórico Renato Teixeira, há de lembrar: “se há sorte, eu não sei, nunca vi”. Ou alguém, que pensa com mais de dois neurônios e não habita exclusivamente os grupos de WhatsApp, imagina que nos estados mais pobres e nas periferias e favelas das cidades, onde faltam alimentos, luz, água, esgoto, gás e remédios as pessoas têm a menor noção de macroeconomia.

Se há notícias boas na economia – e as há! -, sejam artificiais ou não – e são! -, o fato é que os pobres “não sabem, nunca viram”, pois 33 milhões de pessoas continuam famintas; 105 milhões de cidadãos continuam carecendo das três refeições diárias: 78% das famílias continuam endividadas; 50 milhões de trabalhadores continuam na informalidade; 10 milhões de brasileiros continuam desempregados; 65 milhões de CPFs continuam negativados; 38% das crianças não se alimentam adequadamente.

Esse é o Brasil real que a Bolsolândia não conhece, pois ignorante e alienada, senão fanatizada ao extremo. Esse é o Brasil que aparece nas pesquisas eleitorais, que, de fato, para a indignação e incredulidade de tantos, não retrata o “data povo”, aquela multidão pastosa (branca, classe média, meia idade, trajando camisa da seleção) que entope as ruas em manifestações de cunho servil, de culto a um mito, seja lá o motivo de tanta reverência. Esse Brasil representa, gostem ou não os bolsominions, a maioria do eleitorado.

Atenção: este governo cortou remédios da farmácia popular; não reajustou a tabela do IRPF (Imposto de Renda de Pessoa Física); não corrigiu a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde); vetou a correção dos valores da merenda escolar; não propôs reajuste acima da inflação para o salário mínimo. É o governo que queria um auxílio de apenas 200 reais durante a pandemia, e cujo ministro acredita que filho de porteiro não pode frequentar a universidade e que empregadas domésticas não podem viajar à Disney.

O presidente da República, por exemplo, não acredita que há gente pedindo pão em porta de padaria. Também não acredita que exista famintos, vejam só, já que o Auxílio Brasil garante ao menos 20 reais por dia, o que, segundo aquele que entope o bucho com picanha e leite condensado às custas do contribuinte, é suficiente para se alimentar. Ora, não seria diferente a rejeição de tal verdugo dentre os mais pobres do País, majoritariamente o eleitorado nacional, daí a iminente derrota nas eleições que se avizinham. Estranho, mas muito estranho seria algo diferente disso. Falei?