Assassinato de irmão de presidente da Itália ganha novo capítulo

PALERMO, 24 OUT (ANSA) – Um ex-policial de Palermo foi preso nesta sexta-feira (24) sob suspeita de obstruir as investigações sobre o assassinato do então governador da Sicília, Piersanti Mattarella, irmão do atual presidente da Itália, Sergio Mattarella.   

Expoente da antiga Democracia Cristã, Piersanti foi morto a tiros pela máfia em 6 de janeiro de 1980, crime que representou um ponto de virada na atuação da Cosa Nostra no país. O homicídio ocorreu enquanto o governador ia para uma missa de domingo em Palermo, acompanhado da esposa, da sogra e da filha.   

Uma cena eternizada por um fotógrafo mostra o futuro presidente Mattarella retirando o corpo do irmão do carro.   

Filippo Piritore, 75 anos, era subordinado do então chefe do Esquadrão Móvel da Polícia de Estado na capital siciliana, Bruno Contrada – posteriormente condenado por vínculos com a máfia -, e agora é acusado de ter mentido sobre uma luva encontrada no carro utilizado na fuga dos assassinos e que depois desapareceu misteriosamente.   

Piritore teve uma carreira de destaque, servindo como comissário de polícia em Caltanissetta, L’Aquila e Gênova e como chefe da província de Isernia. “A investigação sobre o assassinato de Piersanti Mattarella foi seriamente contaminada e comprometida por membros institucionais que, com o claro objetivo de impedir a identificação dos autores do crime, removeram uma prova muito importante do conjunto probatório”, disse o Departamento Antimáfia do Ministério Público de Palermo, que pediu a prisão domiciliar de Piritore.   

Segundo os magistrados, o ex-policial prestou declarações “completamente não corroboradas” sobre a luva, que contribuíram para atrapalhar as investigações.   

Piritore integrou a equipe que inspecionou o local onde o carro havia sido largado pelos assassinos, como mostra uma fotografia feita pela Polícia Científica. O procedimento padrão seria coletar a luva como possível prova do crime, o que não aconteceu. Além disso, ele não juntou o objeto ao conjunto de materiais restituídos ao proprietário do Fiat 127, que era roubado.   

De acordo com a documentação assinada pelo ex-policial, a luva foi levada ao então procurador substituto de Palermo, Pietro Grasso, que liderava as investigações, porém o magistrado assegurou que nunca recebeu o objeto, informação corroborada pela ausência de qualquer documento que comprovasse a entrega.   

“O procedimento adotado apresenta diversas peculiaridades preocupantes”, declarou o MP de Palermo, acrescentando que Grasso não poderia fazer nenhuma perícia na luva.   

“É incompreensível que um objeto que deveria ter sido investigado tenha sido entregue a um magistrado que não poderia ter conduzido nenhuma investigação técnica. A anomalia se torna ainda mais suspeita quando se considera que não apenas a luva está desaparecida, mas também não há sequer um relatório de entrega ou documento equivalente assinado pelo procurador”, acrescentou o Ministério Público.   

Segundo a investigação, “Piritore, que estava de posse da luva desde que ela foi encontrada, atuou para apagar qualquer vestígio dela”. “Provavelmente, tudo começou com sua intervenção no local onde o Fiat 127 foi encontrado, onde persuadiu a polícia forense a entregar a luva a ele, retirando-a assim do acervo regular e contrariando o que normalmente ocorria em tais circunstâncias”, disse o MP.   

De acordo com a polícia, Piritore também suspeitava que estava sendo investigado. Em grampos telefônicos de setembro de 2024, ele declarou à esposa: “Eles estão fazendo alguma coisa”.   

“Encher meu saco depois de 45 anos…”, acrescentou. (ANSA).