Uma juíza americana concedeu nesta quarta-feira (noite de terça, 25, em Brasília) liberdade ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, por meio de um acordo de admissão de culpa que pôs fim a anos de drama legal pela divulgação de segredos militares.

“Com este julgamento, parece que você poderá sair desta sala de audiência como um homem livre”, declarou a juíza Ramona V. Manglona após o ativista ter se declarado culpado no tribunal federal de Saipan, nas Ilhas Marianas do Norte, um território americano no Pacífico.

Assange, processado pelas autoridades americanas por ter revelado centenas de milhares de documentos confidenciais, declarou-se culpado no tribunal por uma acusação de “conspiração para obter e revelar informações relativas à defesa nacional”.

“Trabalhando como jornalista, motivei minha fonte a fornecer material que se dizia classificado”, disse no tribunal o fundador do WikiLeaks, de 52 anos, vestido com um terno preto e gravata ocre.

A juíza o sentenciou nesta quarta-feira a cinco anos e dois meses de prisão, equivalente ao tempo que passou detido no Reino Unido enquanto combatia a extradição para os Estados Unidos, pelo que não deverá passar mais tempo na prisão.

Com aparência cansada, mas relaxada, Assange riu brevemente com Kevin Rudd, embaixador da Austrália nos Estados Unidos, durante uma pausa na audiência.

– ‘Dia histórico’ –

“Hoje é um dia histórico, ponde fim a 14 anos de batalhas legais”, declarou nesta quarta-feira a advogada de Assange, Jen Robinson.

A sala do tribunal em Saipan estava repleta de jornalistas e moradores locais, muitos vestidos com camisas coloridas de estilo havaiano.

Após a audiência, Assange deixou o tribunal sem fazer declarações à imprensa.

O território insular foi escolhido para a audiência devido à recusa de Assange em ir ao território continental dos Estados Unidos e por sua proximidade com a Austrália.

O WikiLeaks anunciou em sua página na internet que Assange viajará nesta quarta-feira mesmo para Canberra, capital da Austrália, após a audiência em Saipan.

O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, um dos advogados de Assange, celebrou que “ele possa finalmente ser um homem livre depois de quase 14 anos de luta, privado de liberdade nas condições mais adversas”.

A porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Elizabeth Throssell, também comemorou a libertação e “os avanços significativos para uma solução definitiva deste caso”, que “levantou uma série de preocupações em matéria de direitos humanos”.

“Ele não deveria ter sido privado de liberdade nem um dia por ter publicado informações de interesse público”, disse Rebecca Vincent, diretora de campanhas da Repórteres Sem Fronteiras.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou “uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa”. “O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje”, acrescentou.

O governo nicaraguense celebrou sua libertação em um comunicado no qual disse que as publicações de Assange “permitiram ao mundo conhecer mais sobre as mentiras que (…) expuseram em toda a sua desgraçada e brutal intensidade, a barbárie imperialista em tantas partes do mundo”.

Stella Assange fez um apelo por uma campanha de financiamento para pagar os 520 mil dólares que seu marido deve reembolsar ao governo australiano depois de fretar o voo entre Londres e a Austrália.

– Saga de 14 anos –

O acordo encerra uma saga de quase 14 anos, que inclui sete anos de confinamento na embaixada do Equador em Londres.

Desde 2019, quando ele foi levado para uma prisão de segurança máxima em Londres, Assange lutava para não ser entregue à Justiça americana, que o perseguia pela publicação de mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas, em particular no Iraque e Afeganistão.

O australiano, alvo de 18 acusações, enfrentava o risco de ser condenado a até 175 anos de prisão com base na Lei de Espionagem.

O governo britânico aprovou a extradição em junho de 2022. Em maio, no entanto, dois juízes concederam o direito de apelação.

– Sete anos na embaixada do Equador –

O fundador do WikiLeaks foi preso pela polícia britânica em abril de 2019, depois de passar sete anos confinado na embaixada do Equador em Londres, de onde tentou evitar a extradição para a Suécia em uma investigação por estupro, que foi arquivada no mesmo ano.

Nos últimos anos, a pressão aumentou para que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, retirasse as acusações contra ele. A Austrália apresentou um pedido formal em fevereiro, que o presidente democrata afirmou que estava considerando.

“Que o primeiro-ministro [australiano, Anthony Albanese] tenha declarado algumas vezes publicamente “é suficiente’, e que o Parlamento o tenha apoiado, foi algo significativo e absolutamente contemplado pelos Estados Unidos”, declarou à AFP Emma Shortis, pesquisadora de questões internacionais e de segurança no The Australia Institute.

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