Foi tudo muito rápido. Era domingo à noite e os relógios marcavam 21h40. As equipes de segurança do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, nem tiveram tempo de reagir. Em seis minutos, um grupo de cinco assaltantes dentro de uma picape Hilux amarela entrou no aeroporto pelos fundos, cruzou dois quilômetros da estrada interna e parou ao lado do avião MD11 da Lufthansa Cargo com registro D-ALCF, que vinha do aeroporto de Guarulhos e fazia uma parada em Viracopos para receber novas cargas. Neste momento, os ladrões desceram do carro armados com fuzis e pegaram, dentro de um contêiner, 13 malotes carregados com um total de US$ 5 milhões em notas de dólares, reais e libras. O vôo tinha como destino Frankfurt, na Alemanha, e ainda faria outra escala em Dacar, no Senegal. O dinheiro, porém, seguiria até Zurique, na Suíça. A quadrilha tinha uma informação precisa da movimentação financeira, chegou no exato momento em que o dinheiro era retirado do avião e não encontrou resistência dos funcionários. Toda a ação foi feita cirurgicamente sem nenhum tiro disparado. E os bandidos saíram do aeroporto com a mesma velocidade que entraram.

A polícia acredita na participação do PCC no crime, se não diretamente, pelo menos no fornecimento das armas de guerra alugadas para a quadrilha

A Polícia Federal concluiu que o crime foi minuciosamente planejado e executado, e abriu inquérito para investigar o caso. Ainda não houve prisões e as pistas para chegar aos criminosos são escassas. Ao longo da semana foram ouvidas várias testemunhas. A possibilidade de a quadrilha contar com gente infiltrada na Lufthansa ou no próprio aeroporto, não foi descartada, até pela qualidade da informação necessária para o assalto. Foram ouvidos também funcionários da Brink’s, empresa responsável pelo transporte do dinheiro. Algumas questões intrigam a polícia.

Armas de guerra

Uma delas é a mudança do local de pouso da aeronave, que deveria estacionar na posição número 8 do pátio 3, mas, na última hora, parou na posição número 3. Outro aspecto que chamou a atenção foi a retirada do contêiner com os malotes de dinheiro do avião para que fosse feita uma realocação de carga bem na hora em que os bandidos chegaram. Eles não tiveram qualquer trabalho para encontrar o que buscavam. A polícia acredita na participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no crime, senão diretamente, pelo menos no fornecimento das armas de guerra para a quadrilha. A picape usada pelos bandidos estava caracterizada como os veículos de segurança do aeroporto e por isso passou despercebida. Depois do assalto, foi abandonada e incendiada em uma área de mata.

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O dinheiro roubado em Viracopos estava sendo enviado para Zurique por uma instituição financeira que trabalha com câmbio, o banco suíço Raiffeisen Schweiz. De acordo com o inspetor-chefe da Receita Federal em Viracopos, Antonio Andrade Leal, a remessa foi declarada oficialmente para as autoridades e não há, a princípio, qualquer ilegalidade na operação. “Apesar de ser uma quantia bastante alta, é normal que empresas e instituições financeiras que operam com câmbio façam remessas e promovam a entrada ou a saída do papel moeda”, afirma Leal. Segundo ele, a regra é clara: qualquer valor acima de R$ 10 mil que entre ou saia do País deve ser declarado eletronicamente para a Receita Federal e para o Banco Central. “Essa declaração foi feita pela instituição no ato da remessa e a única ilegalidade que a gente conhece nesse caso, até o momento, é o roubo”, afirma.

As condições de segurança do aeroporto passaram a ser questionadas depois do assalto. A Concessionária Aeroportos Brasil Viracopos (ABV), que administra o terminal, informou que conta hoje com mil câmeras de monitoramento instaladas e um total de 147 homens espalhados em 32 postos de segurança. Todos seus portões de acesso são automatizados e equipados com dilaceradores de pneus, cancelas e leitores de placa. Dentro do aeroporto há um quartel da PM, além das delegacias das policias civil e federal. Nada funcionou durante a ação dos bandidos e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) requisitou à concessionária um relatório com detalhes sobre o roubo. O documento será avaliado pela área técnica da Anac para verificar se Viracopos atende às normas de segurança da aviação civil contra atos de interferência ilícita (Avsec). A partir dessa análise serão indicadas medidas para torná-lo mais seguro. O aeroporto de Campinas não enfrentava uma situação de roubo desde 2015, quando um grupo de oitos homens armados invadiu o terminal de cargas e roubou cerca de R$ 11 milhões em processadores de telefones celulares destinados para a empresa Flextronics, em Jaguariúna, no interior paulista.

 


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