Numa rua escura de Beirute, um homem de motocicleta e armado com uma faca intercepta um pedestre. “Não diga uma palavra, não estou aqui para machucá-lo, quero dinheiro ou que me acompanhe a uma mercearia. Meus filhos choram de fome”, confessa.

Uma cena cotidiana no Líbano, onde a catástrofe financeira causou um empobrecimento preocupante.

Zakaria al Omar, de 37 anos, lembra as palavras exatas do motociclista que o interceptou no bairro de Hamra.

Ele recorda que deu dinheiro ao ladrão, que começou a ir embora, até que de repente refez seus passos.

“Eu estava com muito medo. Mas ele começou a chorar e se desculpar dizendo que não era um ladrão, mas que estava com fome e que também tinha que alimentar seus filhos. Eu disse a ele que o perdoava e ele então foi embora”, contou Zakaria à AFP.

Segundo uma fonte das forças de segurança, o Líbano registra, há várias semanas, um “novo tipo de roubo”, especialmente de “leite para bebês, produtos alimentícios e medicamentos”.

Desde o final do ano passado, dezenas de milhares de libaneses perderam o emprego ou parte de sua renda, enquanto a crise econômica, a pior da história contemporânea do país, continua fazendo grandes estragos.

O colapso, no qual a moeda perdeu 80% de seu valor, não poupa nenhuma classe social e aniquila o poder de compra da população.

Essa queda da moeda provocou inflação e quase metade da população vive abaixo da linha da pobreza, enquanto a taxa de desemprego já atinge 35% da população ativa.

Nas farmácias, o pacote mais barato de fraldas mais do que dobrou e agora custa US$ 23, diz um farmacêutico local.

Quanto ao leite em pó para bebês, algumas marcas viram seus preços triplicar.

Segundo estatísticas oficiais, nos primeiros cinco meses de 2020, houve 863 furtos e roubos de casas, lojas e farmácias, um aumento enorme em relação a 2019, que registrou 650 ao longo do ano.

No início do mês, as imagens de uma câmera de segurança, transmitidas nas redes sociais, viralizaram, mostrando três pessoas transportando um enorme cofre na rua no meio da noite, roubado de um restaurante de luxo.

Para as forças de segurança, o aumento nos roubos se deve à “deterioração da situação econômica e à alta taxa de desemprego entre os jovens”.