O mito-candidato Jair Bolsonaro marcou a última terça-feira, 9, como o “Dia D” do desembarque de sua ofensiva definitiva para cativar os eleitores que lhe faltam na disputa com o arquirrival, Lula, pela Presidência da República. Botou toda a munição em campo. Auxílio Brasil de R$ 600, vale-caminhoneiro, vale-gás e até empréstimo consignado preso à verba extra – que deve depois pendurar devedores sem fôlego na bola de neve da inadimplência crônica –, em um pacotão sem precedentes de benefícios temporários que configuram a maior arapuca política jamais tentada antes para enganar incautos e colher simpatizantes de última hora. É, por assim dizer, o Cavalo de Tróia do ataque sorrateiro do capitão. A dinheirama lançada nessa empreitada fica na casa dos bilhões, arrancados via gatunagem orçamentária. Sem contar as emendas do relator e o Fundo Eleitoral gordo para molhar a mão dos senhores parlamentares e engrossar, assim, as fileiras de apoio ao seu projeto. Na prática, está configurada uma grande demonstração de uso da máquina pública em proveito próprio por parte de um presidente da República.

Bolsonaro não tinha nada mais a oferecer. Conta com índices recordes de rejeição. Não aposta em plataforma programática para vencer a disputa. Amarga resultados pífios na economia. Estava a exibir um zero à esquerda e partiu para o deplorável escambo de espelhinhos de indígenas, com agrados de ocasião em busca do voto de cabresto. Populismo na veia que esconde e maquia as traquinagens administrativas, crimes de responsabilidade e profunda incompetência de gestão. O capitão foi o engodo histórico da República – disparado, o pior mandatário a ocupar a cadeira sob qualquer ângulo observado –, legando um festival de suplícios sociais sem fim. Agora quer dobrar a aposta com um projeto de poder autoritário. Move-se temendo a opção contrária, de ser apeado do Planalto e enfrentar a prisão por tantos delitos. Para ele é batalha de vida ou morte. Tanto que já avisou a alguns interlocutores mais próximos a intenção de sair atirando caso seja intimado e, no desdobramento, preso. A confirmar. O ímpeto galhofeiro do Messias é conhecido. Arrota valentia, mas pia quando pressionado. No momento, corre contra o tempo. Tem menos de 60 dias para virar o placar. Na conversa, no tête-à-tête de ideias e projetos, já perdeu. Não leva nem do mais raso dos adversários. Ainda espera uma adesão massiva ao espetáculo grotesco que vem arquitetando para o próximo Sete de Setembro com o objetivo de desacreditar o sistema de urnas eletrônicas e, dessa maneira, tentar um golpe à cavaleiro. Insiste no plano, embora seja desaconselhado pelos aliados militares e assessores de campanha. Bolsonaro está cego de raiva com as pesquisas desfavoráveis. Tem cobrado de ministros mais propaganda boca a boca das realizações de seu governo, mas são pífias e ele comete o pecado recorrente de mentir em relação a feitos inexistentes. O pânico da derrota iminente contamina as decisões e turva o discernimento para bolar uma estratégia sustentável de respostas críveis às demandas dos brasileiros. O que fazer com a Saúde, a Educação, o Meio Ambiente, as relações externas que foram crivadas de desconfiança? Ele não sabe e não diz. Um grande ponto de interrogação permeia a mente dos cidadãos, temerosos de lhe conceder mais uma chance. Mais quatro anos. Com o desemprego em alta, a inflação e os juros, idem, sobram dificuldades e rareiam saídas. As promessas passadas não foram cumpridas, nem lembradas. Por que confiar numa reedição delas agora? A expectativa em torno do possível impacto da chamada PEC Kamikaze sobre as pesquisas eleitorais tem tirado o sono dos convivas palacianos. Eles acham que a distância para o maior oponente, Lula, vem encurtando, muito embora em ritmo lento demais, aquém do esperado, o que pode comprometer as alianças. Receiam a saída antecipada do bloco do Centrão, representando uma espécie de decretação prematura da derrota. Na exata medida de avanço das semanas sem resposta às ações em curso, o comportamento irascível de Bolsonaro apenas cresce e ele tende a abrigar-se no discurso extremista que motiva a tribo e afasta novos convertidos. É a tática do avestruz com data para ser abatido. O rompimento com parte da elite que aderiu aos manifestos pela democracia sinalizou, pela primeira vez de forma concreta, o tamanho do fosso a separar a sua concepção de mundo e de País daquela almejada pela maioria dos votantes. Bolsonaro conta os dias e os brasileiros também.