João Luiz Vieira Fotos Daryan Dornelles Styling Marina Franco Beleza G. Junior Alves / Gloss Mgt Leandra Leal tem 31 anos, mas já carrega currículo de veterana. Começou a atuar aos 2 meses, ainda no colo da mãe, Angela Leal, a Dona Xepa da TV Record, e somente neste fim de ano vai aparecer em quatro filmes, além de assumir a direção de dois documentários e um peculiar festival de teatro, com peças curtas, de apenas 15 minutos. Leandra, produtora das mais atuantes, acabou de receber o 18º prêmio de sua carreira, o Kikito de Melhor Atriz, no Festival de Gramado, pelo longa-metragem Éden, de Bruno Safadi, com quem voltou a trabalhar em Operação Sonia Silk. Até o momento, são 19 filmes, 24 projetos na tevê, entre novelas, seriados, minisséries e, ainda, sete espetáculos de teatro. Seu sonho atual é dividir a cena com a matriarca dos Leal, com quem já trabalha no Rival, casa de espetáculos do Rio de Janeiro, de propriedade da sua família. Está em busca da peça certa para celebrar suas três décadas de carreira. Gente ? Você está numa fase muito produtiva. Acabou de fazer Saramandaia e está nos cinemas com Mato sem Cachorro, de Pedro Amorim. Como se sente? Leandra – Curti muito fazer Saramandaia e me diverti com Mato sem Cachorro. Pedro é um ótimo diretor, cheio de referências, sabe tirar coisas da gente. E adoro trabalhar com o Bruno (Gagliasso). Gente ? Você, aliás, é íntima do cinema desde os 13 anos. Como foi a estreia ainda aos 13 anos? Leandra – A Ostra e o Vento (1996) foi muito maravilhoso e muito complexo. Filmamos na praia de Jericoacoara (CE) e na Ilha do Mel (PR). A personagem me deixou emocionada por causa de sua relação com a terra e de sua solidão. Nesse primeiro contato com set de cinema, fui muito acolhida, protegida, por Walter (Lima Jr., diretor do longa). Ele me passou conhecimento, explicou como tudo funcionava, me ensinava que filmes deveria ver. Gente ? Filmes de quais diretores você gosta de ver hoje em dia? Leandra – Vejo muitos filmes e vejo tudo. Há dias que estou cansada e procuro um filme para relaxar. Dois exemplos de diretores que sempre vou atrás de seus filmes são Woody Allen e Quentin Tarantino. Gente ? Com quem gostaria de trabalhar? Leandra – Com esses dois já estaria ótimo, mas o que quero mesmo é fazer um espetáculo com minha mãe (Angela Leal). Fiz uma ceninha com ela em Mato sem Cachorro e também em Bonitinha, mas Ordinária (de Moacyr Góes, 2008). Gente ? Seu envolvimento como produtora é grande, inclusive no teatro, não? Leandra ? No cinema tenho mais envolvimento, trabalho há mais anos. No teatro, produzi duas peças. Com minha produtora, Daza, estou desenvolvendo um festival de teatro e também dirijo dois documentários. No cinema a chance de trabalhar em vários departamentos é maior. O diretor sempre vai querer parceiros e nosso compromisso é com a eternidade. A tevê, por exemplo, é um acelerador de processos porque o resultado precisa ser mais rápido. Gente ? Trabalhar na tevê é mais difícil? Leandra ? Muito. O tempo de produção é longo, a carga horária é grande, também é grande a responsabilidade, fala-se com muita gente. Muita gente nos vê, ficamos muito expostos. Gente ? Teatro é o mais querido pela maioria dos atores, não? Leandra – Teatro é mágico porque é efêmero. É incrível isso, especialmente no mundo de hoje, em que tudo é registrado. A experiência do espectador e dos atores é única porque não se registra, é só aquele momento. Gente ? Que festival é esse que você está produzindo? Leandra ? Chama-se Microteatro, e a origem é em Madri. São peças curtas, com limitação de tempo e espaço. O espectador faz o caminho pelo espaço, que é um casarão. Os textos são sobre um mesmo tema, acontecem ao mesmo tempo, sob direção de diretores diferentes. Duram apenas 15 minutos e dá para escolher o que assistir, já que acontecem ininterruptamente. Gente ? Como andam os documentários? Leandra ? Divinas Divas é um documentário sobre a primeira geração de travestis artistas em atividade. A média de idade é de 70 anos e, desses, 50 anos são de carreira. Elas conseguiram, são sobreviventes e reconhecidas. Já estou há três anos filmando, e nos dias 13 e 14 de dezembro elas farão um espetáculo que fará parte do filme. Há dez anos elas se apresentam no Teatro Rival (de sua mãe, Angela) e em outros lugares. Vou filmar o espetáculo, números individuais e em conjunto. No documentário elas contam sobre a vida e a quebra de estereótipo. Fujika de Halliday foi casada por 38 anos e hoje é viúva. Já Jane de Castro, cantora oficial do hino da Parada Gay, está com o mesmo homem há 47. Sem falar de Rogéria, que ganhou Prêmio Mambembe de Melhor Atriz. Gente ? O tema é cabeludo para patrocinadores, não? Leandra ? Ainda sofro para conseguir apoio de patrocinadores, de empresas tradicionais. Mas está certo que farei workshop do festival de cinema de Tribeca, em outubro, e o Canal Brasil está querendo nos apoiar. Também farei crowfunding para filmar o show. Elas são muito carismáticas, talentosas, pops. Sabem rir delas mesmas e envolver a plateia. O crowfunding é interessante porque elimina intermediários, e quem financia decide que cultura quer produzir. Gente ? E sobre o Studio SP, em que fase está o documentário? Leandra ? Decidi filmar quando Ale (Youssef, seu marido) decidiu que iria fechar. Filmei o último mês da casa com o público, sócios. O documentário também falará dessa primeira geração de artistas que foi recebida naquele palco. Vou falar de como eles conseguiram um novo formato de parceria, do espaço cultural que foi expulso por uma área que ajudou a valorizar (a chamada Baixa Augusta, no centro de São Paulo). Agora estou na fase de seleção de material, há muita imagem de arquivo. Gente ? Expulsar quem valorizou a área é um fenômeno mundial, não? Leandra ? A Lapa, no Rio, passou por isso e se estabilizou, mas, sim, expulsou muita gente. É assim em todo o mundo. Moradores da antiga Berlim Oriental também reclamam. Gente ? Você é uma artista politizada. Como viu as manifestações de junho e como analisa o atual momento? Leandra ? O objetivo inicial das manifestações foi atingido, estourou tudo a partir da questão do transporte público. Depois houve aquela pressão pedindo uma agenda positiva. Hoje a grande questão é a eleição. A gente só vai mudar a partir do voto. Votei na Dilma no segundo turno, e em Marina Silva no primeiro. Queria que ela conseguisse fundar seu partido, Rede. Gente ? Você não a teme por ser evangélica? Leandra ? Isso é questão de foro íntimo. A maioria dos que formam a Rede é a favor do aborto e da liberação da maconha, por exemplo. Tem mais, o Estado é laico, e religiosos precisam ter liberdade de expressão. O Estado não pode se pautar por religião nenhuma. Eu curto o papa Francisco, mas precisamos garantir a liberdade individual. Gente ? Incansável, você espera novas estreias no cinema, não? Leandra ? Serão quatro filmes. O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra. É sobre um triângulo amoroso, um thriller. Eu faço o ?lobo?, a amante do casal formado por Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento (risos). Operação Sonia Silk eu produzi e atuei. Há mais dois filmes, que rodamos em duas semanas, com o mesmo elenco ? eu, Mariana Ximenes e Jiddu Pinheiro ? e dois diretores, Bruno Safadi e Ricardo Pretti. É uma aventura radical, com pouca gente envolvida. Os dois filmes são O Uivo da Gata e O Rio nos Pertence. Gente ? E como anda o casamento? Leandra ? Vai muito bem, obrigada.