O estreito de Dardanelos, um canal de 61 quilômetros de extensão que liga o Mar Egeu ao Mar de Mármora, na atual Turquia, foi palco ou passagem de diversas batalhas ao longo da história da humanidade. Atualmente, ainda é uma região geopolítica estratégica para as embarcações modernas a caminho do Mar Mediterrâneo e do Oceano Atlântico. Conflitos como a Guerra de Troia, narrada por Homero na Ilíada, ou a Campanha de Galípoli, na Primeira Guerra Mundial, estão entre as batalhas marítimas mais famosas na região. Conhecido pelos gregos antigos como “Helesponto”, o canal não apenas separa as massas continentais da Ásia e da Europa, como também abriga uma série de sítios arqueológicos e os destroços de cerca de 20 embarcações naufragadas durante a Primeira Guerra. O local tornou-se um parque submerso e recentemente foi aberto para a visitação turística.

Com a eclosão da então “Grande Guerra” (não se sabia que haveria uma segunda), o poderoso Império Otomano aliou-se à Alemanha e à Áustria-Hungria, atacou os portos russos no Mar Negro e fechou o estreito ao tráfego marítimo. A consequência desse ato quase custaria a carreira política do jovem Winston Churchill, que mais tarde se tornaria premiê britânico. “Nascido na alta sociedade, Churchill possuía uma posição privilegiada como Primeiro Lorde do Almirantado. Ele quis mostrar que era corajoso e teria condições de tomar a região”, explica o historiador Wesley Espinosa Santana, professor de História da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo Santana, a ousadia que lhe garantiria mais tarde a glória na Segunda Guerra custou diversos navios afundados nesse período.

Churchill despachou uma frota franco-britânica de navios de guerra, submarinos e caça-minas para Dardanelos em fevereiro de 1915, com o objetivo de abrir o estreito e pavimentar o caminho para a conquista de Constantinopla, antiga Bizâncio (hoje, Istambul). “A marinha britânica não se planejou, não previu que as embarcações pequenas — que funcionavam praticamente como os kamikazes japoneses — poderiam afundar a sua tropa”, diz Santana. Churchill chegou a declarar na época: “Com um bom exército de 50 mil homens e poder marítimo, será o fim da ameaça turca”. Ele não poderia estar mais enganado.

Conhecida hoje como uma das campanhas mais mortais de toda a Primeira Guerra, a batalha por Dardanelos matou ou feriu cerca de 300 mil soldados da Tríplice Entente, formada pela Inglaterra, França e Rússia, além de outros 250 mil homens da Tríplice Aliança, coalizão entre o Império Otamano, Alemanha e Áustria-Hungria. A vitória otomana em menos de um ano é celebrada pela Turquia até hoje, o que torna o local um importante destino turístico para quem gosta do assunto.

Viagens de guerra

A visita à península de Galípoli, repleta de locais memoriais, como as antigas fortalezas otomanas e o Museu da Guerra de Galípoli, já é um passeio conhecido dos turistas em todo mundo. Agora, no entanto, os viajantes que possuírem um certificado profissional de mergulho poderão ver de perto os naufrágios. “Visitar esse lugar é vislumbrar a história da humanidade”, diz Santana. Alexandre, o Grande passou por lá em suas conquistas; os exércitos persas de Xerxes I e de seu pai, Dario I, também lutaram para dominar a região. A cidade de Troia, escavada em 1870 e Patrimônio Mundial da Unesco, está localizada hoje na região da cidade de Çanakkale, no lado oriental do estreito. Até as Cruzadas medievais tiveram importantes episódios nessas poucas milhas náuticas. Para quem não é fã de guerra ou história no geral, a viagem também pode ser prazerosa: a península conta com diversas praias paradisíacas e água azul cristalina.